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«Seara Nova»: 100 anos

Passa hoje um século sobre o número inaugural da histórica Seara Nova, revista e editora em que colaboraram, mais ou menos, quase todos os escritores mais ou menos progressistas do nosso séc.XX.
Devida em primeira mão à iniciativa dos republicanos «ex-Águia» e então colegas na Biblioteca Nacional Jaime Cortesão e Raul Proença, que tinham acabado de trocar o Porto por Lisboa e no seu afã político e socialmente interventor considerariam já a revista republicana portuense demasiado «artística», logo se lhes juntaram, entre outros nomes secundários, o republicano radical Aquilino Ribeiro e o nem republicano nem monárquico, mas primeiro escritor português a introduzir preocupação social na literatura (e que literatura!), Raul Brandão. Mais tarde teria também lugar de destaque outro «ex-Águia», oponente de Pascoaes na mais célebre polémica da revista, António Sérgio.
[É curioso notar como a Águia perdeu as asas e se extinguiu pouco após o encerramento da republicaníssima Faculdade de Letras do Porto por decreto do governo na ditadura militar, sendo grande parte do seu famoso corpo docente colaborador da revista e publicador na «Renascença Portuguesa»: Leonardo Coimbra, Hernâni Cidade, Damião Peres, Santana Dionísio, Teixeira Rego, José Marinho, Ângelo Ribeiro, Luís Cardim, etc.; enquanto a Seara continuou sempre, apesar da censura e das prisões, não hesitando aliás o regime em meter na cadeia um já septuagenário e cidadão-mais-cívico-e-impoluto-que-pode-haver Jaime Cortesão. Atrás das grades, a primeira coisa que se lembrou de fazer foi dar logo aulas de tudo, mas sobretudo de História de Portugal, aos surpreendidos presidiários que ouviam deleitados aquela lição viva de pedagogia cívica. Saiu da prisão pouco tempo passado, após insistente pressão da imprensa brasileira, reconhecida por todo o monumental trabalho desenvolvido pelo historiador durante o exílio no Brasil. O ano? 1958. Primeira opção para a candidatura da Oposição à Presidência da República, recusou modestamente, talvez por entender que era preferível alguém mais novo, não deixando de dar depois apoio público a esse mais novo Delgado. Enfim, é por estas e por tantas outras que quem diz que a República foi apenas uma balbúrdia e o Estado Novo uma benção, não fala a mesma língua que nós.]

Estão já a ter lugar várias exposições comemorativas, entre as quais merece naturalmente destaque a que tem lugar na Biblioteca Nacional onde tudo começou e ainda não acabou.