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Livraria / Editora / Alfarrabista } { Porto bibliographias@gmail.com / 934476529

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Porto em Fralda: narrativas do Porto, por dois tripeiros

1.º milhar ——— 1926. (Composto e impresso na tip. da Casa de Obras de O PRIMEIRO DE  JANEIRO). In-8º de 94, [2] págs. Br.
 
Livrinho consideravelmente raro, consideravelmente desconhecido e consideravelmente interessante, gracioso roteiro narrativo pelas ruas e instituições da cidade, composto pelos irmãos Diogo e Eduardo de Sousa Lima; e ilustrado na capa por ainda mais um Lima, João:
Porto em Fralda, escrito ao correr da pena e sem pretensão a litteratura ou humorismo, tem por fim, caros leitores e presadíssimas leitoras, demonstrar, em linhas rápidas e sem obsecação de bairrismo  o que é a Invicta e Sempre Leal Cidade da Virgem, áqueles que simplesmente a conhecem de nome... Por isso, os seus autores, tripeiros de gema, procurando enaltecer o que de bom existe neste querido Pôrto, de tradições as mais belas, não deixarão, no entretanto, de condenar, pondo a claro, a hedionda podridão que ao transeunte se depara a cada passo, por essas ruas fora, graças à inércia dos dirigentes da C. M. P., que lançaram ao abandono esta laboriosa Cidade, donde brotaram os principais rasgos de heroismo e os primeiros gritos de liberdade (...)
 
Exemplar bem conservado, descontando quando muito as ligeiras manchas da capa.

20€

«Estado de Emergência»

O problema de alguns cidadãos com os estados de emergência é antigo. Tão antigo que já vem da Roma Antiga onde bem vistas as coisas começaram.
Durante a República, entendeu-se até bastante tarde - ainda na guerra púnica com Aníbal aconteceu várias vezes, especialmente quando este, saído daqui da Península Ibérica, atravessou Pirenéus e Alpes gelados a pé com elefantes e um exército dos que sobreviveram ao frio, chegou à metrópole indefesa pelas legiões afastadas noutras frentes e por um acaso até hoje inexplicável não a desfez, preferindo passar-lhe ao largo: "Hannibal ad portas!" - que seria proveitoso suspender a normal vigência das leis e o habitual funcionamento das instituições durante fases de crise, excepção, emergência; conferindo poderes alargadíssimos e quase ilimitados aos dois cônsules que então estivessem em funções e/ou ao dictator que nomeassem. Cunhou-se aí o conceito de «ditadura» como hoje o conhecemos, tal como até certo ponto, pelo menos em sentido institucional, também o de «República» poderemos reconduzir aos romanos (apesar de Cartago funcionar igualmente enquanto república, já para não falar em algumas das anteriores cidades-Estado gregas; os celtas, num paraíso perdido propriamente colectivista, estavam muito à frente). Mais tarde, primeiro Sula e depois sobretudo Júlio César tentaria normalizar esse estado de excepção para se ir alongando no poder, por isso acabando assassinado assim nuns "Idos de Março" mas em vão: depois do segundo triunvirato, e após a terceira guerra civil em menos de um século (com Marco António), Octávio imporia o imperium como regime, super-ditadura que duraria, mais ou menos dinasticamente, quatro séculos e pico, não sendo este "pico" nenhum trocadilho.
Digamos portanto que isso dos estados de emergência, e das ditaduras, e pior ainda o facto de serem aceites em República, foi uma mais de tantas coisas más que os romanos nos deixaram, desde a autoridade à burocracia administrativo/fiscal, desde a escravatura enquanto base da economia até ao pão e circo para alienar a plebe.
 
[Na imagem: a capa de Astérix e os Louros de César, desenhada por Albert Uderzo]

Albert Uderzo [1927-2020]

Nestes tempos em que quase nada circula, sobretudo notícias, passou relativamente despercebida a morte de um dos co-criadores de Astérix, Albert Uderzo, a quem o céu caiu por cima da cabeça * na passada semana (René Goscinny finara-se em 1977).
Por vontade do ilustrador que até no facto de ter nascido com seis dedos em cada mão era excepcional, a série deveria terminar quando ele lhe terminasse a derradeira prancha, mas entretanto não resistiu à tentação de vender os direitos à Hachette, que naturalmente (mas infelizmente) lhe quis dar continuidade e mais lucro, não se limitando aos títulos já publicados e pretendendo continuá-la. Para o efeito contratou há alguns anos um novo argumentista e um novo desenhador, cujos nomes nem fixámos nem vamos fixar, e é claro que não só o traço como o texto (talvez este mais ainda) ficaram muito a perder. 
 
Aqui fica a homenagem de um dos tantos leitores infanto-juvenis que quando começavam qualquer dos livros da colecção só o largavam no fim, a eito, mesmo que pelo meio estivesse por exemplo uma viagem de carro e tivessem de enjoar pelo caminho.
Quem padecer de dúvidas sobre que tipo de livros incluir em Planos Nacionais de Leitura e quejandos, não tem muito que saber. Não devia ter.
 
* Um dos leit-motivs de força da série, baseou-se com certeza numa célebre tirada do guerreiro gaulês Breno, que numa expedição pelos inícios do séc.IV a.C. invadiu e saqueou Roma como se nada fosse, algo que só Aníbal poderia ter repetido e só oito séculos depois várias tribos germânicas viriam a repetir. Algum dos habitantes de uma cidade assustada ter-lhe-á perguntado se não havia nada de que ele tivesse medo. Breno ter-se-á rido e respondido qualquer coisa como "Medo? Só se for de que o céu me caia em cima da cabeça..."
Chama-se a atenção para um aspecto que cá passou sempre despercebido, se é que não passou também em França: é que a própria figura de Astérix parece basear-se num quadro artístico do saque de Roma pelo comandante gaulês.

Artur Magalhães Basto ― Fons Vitae

«Fons Vitae»: o misterioso quadro existente na Misericórdia do Porto

Pôrto: Tipografia do Hospital do Conde de Ferreira (Da Misericórdia do Pôrto). 1933. In-4º de 59, [1] págs. Br.

Primeira edição, já invulgar, impressa em bom papel e ilustrada em folhas destacadas de papel couché pela reprodução do quadro e de dois pormenores. O estudo dá nota das principais hipóteses aventadas até à data relativamente à autoria do quadro – Van Eyck, Van der Weyden, o nosso Grão-Vasco, etc. – e  das vicissitudes pelas quais teria passado até então.

Exemplar em boa condição, só pontuado em poucas folhas por algumas marcas de acidez.

20€

Artur Magalhães Basto ― Fernão Lopes

Fernão Lopes (suas «Crónicas Perdidas» e a Crónica Geral do Reino – a propósito duma Crónica Quatrocentista Inédita dos Cinco Primeiros Reis de Portugal // em apêndice, largos trechos da crónica inédita em confronto com os trechos correspondentes de Galvão, Pina, Acenheiro :: e Crónica da Conquista do Algarve)

Editora – Livraria Progredior – Pôrto, 1943. In-4º de VIII, 131, [1] págs. Br.

Verifiquei recentemente que um dos Códices da riquíssima colecção de manuscritos da Biblioteca Pública Municipal do Porto contém, além de outras peças de grande interesse histórico-literário, uma crónica dos cinco primeiros reis de Portugal, a qual, embora mui parecida com as crónicas afonsinas de Duarte Galvão e Rui de Pina, considero anterior às dêstes autores. (...) Se se provar que a Crónica do Códice a que me referi é, efectivamente, anterior e serviu de base às correspondentes daqueles autores, ocorre naturalmente a pregunta: será essa Crónica dos Cinco Reis uma parte da obra histórica «perdida» de Fernão Lopes?

Edição graficamente cuidada, ornada por capitulares e outros elementos decorativos e impressa a duas cores na capa, na folha de rosto e no frontão de abertura.

20€

Magalhães Basto ― Um Episódio na Praça da Liberdade às 4 Horas da Manhã

Um Episódio na Praça da Liberdade às 4 Horas da Manhã (Palestra radiofónica pronunciada em 1939 pelo A. (Pôsto da Invicta Rádio) e promovida pela Comissão Organizadora da Feira do Livro

Editora – Livraria Progredior / Pôrto – 1943. In-12º de 21, [3] págs. Br.

Livrinho composto pelo autor num seu certo registo típico, descaradamente fantasioso e bem-humorado, inventando uma conversa imaginária de madrugada “Para os que me não conhecem, devo advertir que não é meu hábito passear na Praça Nova às 4 da manhã. Fi-lo (ou se preferem físe-o) uma noite destas, porque não podia dormir de preocupado que andava com o que havia de dizer hoje aqui” com os fantasmas dos escritores portugueses arrumados nas prateleiras das estantes dos pavilhões da Feira do Livro, alinhavados em torno da estátua de D. Pedro (há desse tempo uma ou outra deliciosa fotografia do pavilhão da alfarrabista portuense Moreira da Costa, ainda hoje com actividade aberta ali bem perto, na Rua de Avis, de onde um hoteleiro recém-arrivista não a conseguiu tirar – coisa talvez tão rara nos tempos que correm como os exemplares que vão aparecendo deste pequeno opúsculo.) Para quem não saiba – e parece haver ainda muita gente... – a Feira do Livro tem ultimamente decorrido nos jardins encantados do Palácio de Cristal, onde marcamos presença ano após ano, saindo de lá por vezes quase às 4 da manhã.
 
10€

Artur Magalhães Basto ― “Vereaçoens”

“Vereaçoens” (Anos de 1390-1395 // O mais antigo dos Livros de Vereações do Município do Pôrto existentes no seu Arquivo / Com / Comentário e notas de A. de Magalhães Basto, Chefe de Serviços da Secção de Manuscritos da Biblioteca Pública Municipal do Pôrto)

Publicações da Câmara Municipal do Pôrto / Gabinete de História da Cidade. (Execução de Gráficos Reunidos, Lda. Porto). In-4º de 498, [II] págs. Br.

Além das escrituras propriamente ditas, interessam em grande medida, como de costume, os comentários e longas notas finais de Magalhães Basto. Salvo erro, sairia mais tarde um segundo volume dedicado já ao início do séc.XV.

Exemplar dificilmente superável, muitíssimo bem cuidado e conservando ainda todos os cadernos por abrir, exceptuando uma mancha de escurecimento marginal na capa.
 
30€

Artur Magalhães Basto ― Os 75 anos do Ateneu

Edição do Ateneu Comercial do Pôrto (acabou de se imprimir aos 10 de Maio de 1945, nas Oficinas Gráficas da Sociedade de Papelaria, Lda.). In-8º gr. de 44, [4] págs. Br.

“Conferência pronunciada pelo autor em a noite de 11 de Dezembro de 1944, no salão nobre do Ateneu Comercial do Pôrto”, engraçadíssima no seu registo coloquial, contando sob a forma de imaginário diálogo a história da instituição portuense desde os primórdios ainda na Rua da Porta do Sol, à Batalha – fornecendo curiosos dados acerca da compra do terreno e da construção do edifício da Rua Passos Manuel e, sobretudo, da biblioteca: cujo inaugural «Gabinete de Leitura» ainda na localização primitiva era uma estante de pinho com trezentos e poucos títulos, em 1945 já 50.000 (incluindo o exemplar comprado da 1.ª edição d’Os Luziadas), e hoje sabe-se lá quantos. Aos 75 anos então contados há hoje que somar outros tantos cumpridos em 2019, 150 no total.
Edição ilustrada na capa e num desenho por Laura Costa, artista neta de Alves Costa, um dos pioneiros do Ateneu – família que bem se pode considerar das mais ilustres do séc.XX na cidade.

O exemplar aqui apresentado ostenta o ex-libris pequeno da Livraria Manuel Ferreira, da autoria de José Rodrigues, outro portuense ilustre; e tem debaixo um carimbo de oferta como “Homenagem do Ateneu aos «Amigos da Biblioteca»”.

20€     

Álbum de Memórias do Ateneu Comercial do Porto (1869-1994)

Porto 1995 (concepção gráfica e paginação: Edições Afrontamento / impressão e acabamento: Rainho & Neves, Santa Maria da Feira). In-4º gr. de 327, [9] págs. Enc.

Se não falha a memória, é o mais importante repositório histó rico, documental e  iconográfico sobre a velha instituição onde tiveram lugar, por exemplo, as conferências promovidas pela Liga Patriótica do Norte presididas pelo socialista Antero de Quental (ou, segundo o ultra-neo-liberal e cultíssimo Observador, “Linha Patriótica do Norte”).
Trabalho de uma vasta equipa à volta da Faculdade de Letras, integrando professores e alunos, teve coordenação de Gaspar Martins Pereira e Luciano Vilhena, que assinam textos – tal como Luís Miguel Duarte, Alfredo Ribeiro dos Santos, Maria do Carmo Serén, Mário Cláudio, Dulce Magalhães, Luís Grosso, etc. Riquíssimo em apontamentos não só sobre a história do Ateneu mas também a da cidade, pode bem considerar-se importante para qualquer coleccionador portuense.

O álbum foi encadernado pelo editor em tela, revestida de sobrecapa em papel – já neste caso ligeiramente desgastada – que reproduz uma conhecida escultura da casa.

35€ 

Ricardo Jorge ― Camillo e Antonio Ayres

Camillo e Antonio Ayres (Seguido do poema “As Commendas”) / (Com um retrato de Camillo e outro de Antonio Ayres) / 1.º Milhar

Emprêsa Literária Fluminense, L.da / Lisboa. (Tip. da Sociedade de Papelaria, L.da ● Pôrto ● 1925). In-8º de CCLVII, [I], [8], 84, III, [III] págs. Br.

O longo e hoje pouco interessante comentário da polémica, de que algumas peças são aqui transcritas, é frequentemente acompanhado de notas acerca da vida portuense na época a que respeita (grosso modo, a de infância e juventude do autor).

Exemplar ainda por estrear, conservando a totalidade dos cadernos por abrir; com uma etiqueta de biblioteca colada pelo respectivo anterior proprietário no pé.
 
15€

Ricardo Jorge ― Sermões dum Leigo

Emprêsa Literária Fluminense, L.da / Lisboa. [S/d - 1925?]. In-8º de [8], 327, [3] págs. Br. 

Edição primeira destas “emissões oratorias, soadas ao sabor vario dos tempos e dos auditorios, (…) umas por imposição de dever, outras por condescendencia indeclinavel”, a saber: «Sousa Martins», «João Semana», «O Medico Penitente», «A Guerra e o Pensamento Medico», «A Intercultura de Portugal e Espanha no Passado e no Futuro», «Maximiano de Lemos» e «A Proposito de Pasteur».
Exemplar do primeiro milhar impresso.

15€

Ricardo Jorge ― Passadas de Erradio

Passadas de Erradio (Impressões e estudos de viagem ) / (1.º milhar)

Emprêsa Literária Fluminense, L.da / Lisboa. (1924). In-8º de 318, [2] págs. Br.

Segundo volume de um díptico de literatura de viagem, publicado como sequência de Canhenho dum Vagamundo. Apresenta os textos «Il Duce – Impressões de Florença» (o autor estava na belíssima cidade italiana quando Mussolini, subindo após a tomada de Roma, lá foi recebido em apoteose – aproveitando para assistir, e demasiado bem impressionado por Il Capo, deixava aqui dessa manifestação a reportagem), «A Cortina de Pedra de S. Marcos – De Coimbra a Veneza», «Pela Puerta del Sol», «Na Côrte das Nações», «No Centenário Pastoriano», «Aspectos de Paris» e o longuíssimo e anterior «Em Quarentena de Guerra» (em Paris no desenlace do primeiro conflito mundial).

Exemplar aparentemente já lido, e com ligeiro desgaste da capa, mas não apresentando defeitos de importância.
 
14€  

Ricardo Jorge ― Canhenho dum vagamundo (Impressões de Viagem)

Emprêsa Literária Fluminense, L.da/Lisboa. (1923). In-8º de IX, [I], 296 págs. Enc.

Edição original deste repositório de apontamentos de viagem (por Londres, Paris, Suíça, Mónaco e Catalunha), cada uma “projectada na taboa raza dum espirito, facil de adivinhar por inteiro, porque nos seus refêgos mesmo se retrata ao trasladar das impressões que o animaram”; dedicada à memória da mulher (morrera em 1922), Leonor Maria dos Santos, e ilustrada em folha destacada preliminar pela reprodução de uma caricatura do autor tirada precisamente durante a estadia londrina.
Recorde-se que o livro foi recentemente publicado em fac-simile pelo jornal Público, sendo o escolhido de Ricardo Jorge na colecção Médicos Escritores.

Exemplar do primeiro milhar impresso.
 
18€

Ricardo Jorge ― Canhenho dum vagamundo (Impressões de Viagem)

Emprêsa Literária Fluminense, L.da/Lisboa. (1923). In-8º de IX, [I], 296 págs. Enc.

Outro exemplar da mesma edição primitiva, este da série encadernada pelo editor – em percalina gravada a ouro – do primeiro milhar.

22€   


Ricardo Jorge ― I – H – S

I – H – S (Discurso pronunciado na sessão academica consagrada a S. S. Pio XI e celebrada na Sala Portugal da Sociedade de Geografia a 6-2-29 / Com um Postfacio)

Lisboa – 1929. (Composto e impresso na Imprensa Lucas & C.ª). In-4º de 29, [3] págs. Br.

Palestra em defesa do cristianismo por um assumido católico nada praticante, que para o efeito invocava e comentava os casos de mais inveterados predecessores ilustres, alguns deles – os do Porto – ainda por ele conhecidos: Antero, Gomes Leal, Junqueiro, Basílio Teles, Sampaio Bruno. “A cruzada hoje é outra: não há que estremar dissidências entre fieis nem pelejar contra infieis. A Igreja não enrista nem afia espadas, quer que elas se abaixem e se embotem. Ha sim que implantar a paz do mundo, estandardizada pelos braços abertos do crucifixo: a paz que com a glória a Deus nas alturas seja a paz na terra aos homens de bôa vontade, que não são muitos, e aos de má vontade, que são legião”.

Exemplar com alguns picos de acidez na capa. 

12€  

Ricardo Jorge ― Demographia e Hygiene da cidade do Porto

Demographia e Hygiene da cidade do Porto ― I: Clima-População-Mortalidade (illustrado com quadros estatisticos, tabellares e graphicos, referentes ao Porto, Lisboa e Reino, e confrontos internacionaes / por / Ricardo Jorge (Medico municipal, lente de hygiene e medicina legal na Escola Medico-Cirurgica do Porto, socio correspondente da Academia Real das Sciencias, do Instituto de Coimbra, e da Sociedade das Sciencias Medicas.))

Editado pela Repartição de Saude e Hygiene da Camara do Porto, 1899. In-4º de 444, [4] págs. Cart.
 
 
Tomo inaugural de um projectado «Annuario do Serviço Municipal de Saude e Hygiene da Cidade do Porto» que, salvo erro, não teria continuação, foi este um dos primeiros livros do higienista e é hoje raro – e bastante desconhecido mesmo entre os coleccionadores de bibliografia portuense, à qual interessa e não pouco.

“Quando em fins de 1892 se installou a Repartição municipal de Saude e hygiene, um dos serviços que a ex.ma camara nos auctorisou logo a crear, foi o da estatistica demographica da cidade. Era litteralmente uma vergonha que uma grande cidade como o Porto não tivesse um registro seu do movimento da sua gente. (...) O Porto vive no esquecimento d’essas cifras; se a semana foi boa ou ruim no mercado dos generos ou nas operações bancarias, ha muito quem escrupulise em sabe-lo; mas se os cemiterios enguliram mais cadaveres, se a tisica ou a febre typhoide diminuem o rebanho, a quem se lhe dá isso?! (...) Tentou-nos, como preliminar, a historia populacional do Porto, as causas e a marcha do seu desenvolvimento, rastreadas principalmente atravez dos documentos archivados no cartorio municipal. E’ um ensaio de demogenia local e estatistica historica, e ao mesmo tempo um esboceto da evolução social d’esta cidade que a historia tam ingratamente tem despercebido, esta cidade do Porto tam digna de rememoração como «velha burgueza, mãe do Portugal, que ella criou, vestiu de ferro, e fez nação, robusta e destemida, entre os seus braços e sobre a amurada das suas naus (Camillo)”, assim apresentava o autor num longo prefácio este seu trabalho, que dizia pioneiro na estatística e no qual destacava “a construcção dumas taboas de vida, mortalidade e sobrevivencia, raro tentada lá fóra em grupo urbano, e pela primeira vez ensaiada para um grupo social portuguez”.

Antes do tratado propriamente dito, também a longa exposição inicial acerca da história da cidade merece atenção, apesar de padecer um tanto dos mesmos defeitos e insuficiências que R.J. criticava a outros – v.g. a confusão entre Cale e Gaia, porém desculpável numa altura em que ainda se começava a desfazer esse e outros equívocos sobre a origem do burgo que ainda hoje confundem tanta gente...

Compõe-se das secções «Meteorologia – Clima», «Demographia – População» (com os capítulos «Origens e Desenvolvimento», «Composição censuaria» e «Movimento da população») e «Mortalidade» («Mortalidade geral», «Mortalidade especial», «Taboas de mortalidade e sobrevivencia» e «Mortalidade local»); apresentando, no texto e em folhas destacadas, toda uma profusão de gráficos, mapas, quadros e tabelas com diversíssimos dados geográficos e higiénico-sanitários relativos, sobretudo, ao último quartel do séc.XIX.

50€

O Porto em Quarentena

Todos temos lido nestes dias muitas reportagens e foto-reportagens sobre um Porto em quarentena "como nunca esteve". Será que não? Em quarentena, já esteve, e bem mais severa. A diferença é que as pessoas podiam sair à rua...
 
Há cerca de 120 anos, no Verão de 1899, o burgo viu-se assolado por uma epidemia de peste bubónica (terceira vaga da velha conhecida «Peste Negra» também com origem, para não variar, na China). Começou no coração da Ribeira e rapidamente se foi espalhando sobretudo pelos bairros operários mais modestos. Chamado a auscultar, o nosso patrício Ricardo Jorge, director dos serviços municipais de saúde e já à época especialista máximo em todo o país, tomou as devidas anotações e medidas, das quais deu conta ao governo. Entre muitas hesitações, o progressista («mutatis mutandis» o correspondente ao socialista de agora) primeiro-ministro José Luciano de Castro acabou por decretar o isolamento forçado da cidade, com um cordão sanitário que começava em Matosinhos, seguia o rio Leça (São Mamede, Ermesinde, etc.) e dava a volta pelo Douro (Oliveira do Douro e Avintes) até chegar ao mar, mais ou menos entre as actuais praias da Madalena e de Valadares. Tropas auxiliares do Minho e do Douro (Viana, Guimarães, Chaves, Vila Real, etc.) asseguravam o confinamento por entre os protestos e manifestações - sim, manifestações !, os portuenses podiam adoecer, não podia é chegar ao resto do país... - locais; mas nessa altura, claro, já grande parte da população se tinha escapulido, o que ia dar ao mesmo. Ricardo Jorge passou a ter de andar sob escolta na sua cidade e entre os seus conterrâneos, talvez também por isso acabando por perder a paciência e se fixar em Lisboa, como Garrett e como Ramalho antes. Isto apesar de se ter sempre oposto (este ponto é importante) ao cordão sanitário. Em Lisboa, além de «patrocinar» o Instituto Nacional que depois lhe viria a tomar o nome, foi dirigir e reformar de alto a baixo a recém-fundada... Direcção-Geral de Saúde. Quanto à peste, se servir de termo de comparação, duraria cerca de três meses e pelas contas oficiais saldar-se-ia «apenas», salvo erro (desculpem o livreiro que leu sobre isto há muito tempo), em pouco mais de três centenas de infectados e pouco mais de uma centena de mortos. Muito à portuguesa, o isolamento terminava simbolicamente na véspera de Natal.

Em 1900 seriam pela primeira vez eleitos deputados republicanos às Côrtes, e os três pelo círculo do Porto - incluindo um jovem Afonso Costa que advogava e começava a conspirar politicamente na cidade. Supõe-se que a crise sanitária do ano anterior tenha sido um dos factores decisivos (além do velho republicanismo da Invicta) para a eleição.

Machado de Assis ― Historias sem Data

Historias sem Data (A Egreja do Diabo – O  Lapso – Ultimo Capitulo – Cantiga de Esponsaes – Uma Senhora – Singular Occurrencia – Fulano – Capitulo dos Chapéos – Galeria Posthuma – Conto Alexandrino – Primas de Sapucaia – Anecdota Pecuniaria – A Segunda Vida – Ex-Cathedra – Manuscripto de um Sacristão – As Academias de Sião – Noite de Almirante – A Senhora do Galvão) / Nova Edição Revista

Livraria Garnier. (Paris). [S/d - 1924?]. In-8º de [VIII], 224, [IV] págs. Enc.


Livro de contos sobre “coisas que não são especialmente do dia, ou de um certo dia”, conforme explicava o autor na sua advertência inicial («lamentando» porque “o melhor dos titulos é ainda aquelle que não precisa de explicação”).

Exemplar revestido de uma boa encadernação da época, em estilo meio-amador, com a lombada em pele gravada a ouro mas a pasta inferior infelizmente apresentando algumas marcas de corrosão; conserva ambas as faces da capa de brochura.
 
25€

Erico Verissimo ― Caminhos Cruzados

Edição da Livraria do Globo (Rio de Janeiro – Pôrto Alegre – São Paulo). (1947). In-8º de 334, [2] págs. Br.

“Esta reedição de Caminhos Cruzados sai no momento preciso em que a reputação de Erico Verissimo, como romancista, firmemente estabelecida entre os povos de fala portuguêsa, estende-se ao inglês, francês, espanhol, sueco, holandês, húngaro e dinamarquês, com traduções já aparecidas ou em preparo”; a edição primitiva fôra em 1935.
 
Exemplar bem conservado, ainda que marcado por escurecimento nas margens da capa e uma assinatura de propriedade na folha de rosto.
 
14€

Erico Verissimo ― Fantoches

Fantoches / Edição fac-similada comemorativa dos quarenta anos de actividades literárias do Autor

Livros do Brasil / Lisboa, 1973. In-4º de XVI, 211, [5] págs. Br.

Edição em bom papel, apresentada por uma nota do editor português e por um prefácio do autor. O interesse específico são as sátiras do próprio Veríssimo, entre ilustrações e comentários, aos textos deste que foi o seu primeiro livro, reproduzidos a partir do exemplar da edição original em que as fez.
 
10€

Raquel de Queirós ― Lampião

Lampião (drama em cinco quadros « Capa de Santa Rosa « 2.ª edição)

Livraria José Olympio Editora / Rio de Janeiro – 1954. In-8º de 141, [5] págs. Br.

“A vida de Virgulino Ferreira, o famoso Lampião das catingas do Nordeste, cujos aspectos lendários e reais muitas vezes se interpenetram na tradição oral e escrita, eis o tema desta primeira experiência teatral de Rachel de Queiroz que agora se concretiza no livro e no palco”. A edição original da peça, da qual esta parece uma simples reimpressão, saíra em 1953.
 
10€ 

Afrânio Peixoto ― Sinházinha

Sinházinha (Romance / Primeira Edição, 10. 000 Exemplares)
 
1929. / Companhia Editora Nacional, São Paulo. In-8º de 304 págs. Enc.
 
Edição original de um dos principais romances do autor, com o sertão brasileiro, como de costume, em fundo.
 
Exemplar revestido de uma encadernação em pele pontilhada com gravações a ouro na lombada; conservando ambas as faces da capa de brochura e o papel, de um modo global, ainda limpo o bastante, mesmo se de quando a quando levemente marcado por acidez.
  
25€ 

José Lins do Rego ― Pedra Bonita

Pedra Bonita (Romance / [Capa de Santa Rosa] / 3.ª Edição, 6.º e 7.º milheiros


1943, Livraria Jose’ Olympio Editora – Rio de Janeiro. In-8º de 369, [3] págs. Enc.

Indicada como terceira edição, deverá ter sido simplesmente uma reimpressão da primeira.

Exemplar revestido de  encadernação em pele pontilhada com gravações a ouro na lombada; ainda em muito bom estado e conservando por inteiro a capa primitiva.
 
14€

José Lins do Rego ― Usina (romance / 2.ª edição)

1940, Livraria José Olympio Editora – Rio de Janeiro. In-8º de 347, [5] págs. Cart.

“Com “Usina” termina a serie de romances que chamei um tanto emphaticamente de Cyclo da Canna de Assucar. / A historia desses livros é bem simples: - comecei querendo apenas escrever umas memorias que fossem as de todos os meninos creados nas casas grandes dos engenhos nordestinos. Seria apenas um pedaço de vida o que eu queria contar. Succede, porém, que um romancista é muitas vezes o instrumento apenas de forças que se acham escondidas no seu interior”.

Exemplar cartonado de forma artesanal sem conservar, aparentemente, a capa de publicação.
 
5€

Joracy Camargo ― Deus lhe Pague...

Deus lhe Pague... (Comédia completa em 3 actos divididos em 9 quadros) / Prefácio de Procópio / (3.ª edição)

Livros do Brasil, Limitada – Lisboa. [S/d]. In-8º de 173, [3] págs. Br.

O prefácio do actor brasileiro, aunque bastante palavroso e sentencioso, louvava esta peça como “a grande obra cultural do teatro brasileiro” até então, marcando “o início da nossa arte cénica, na sua verdadeira expressão: - teatral, cultural e social”.

Não estando a edição datada, o exemplar apresenta uma assinatura de propriedade indicando o ano de 1951.

5€

Odylo Costa (filho) ― a faca e o rio (mais) a invenção da ilha da madeira

Edição «Livros do Brasil» Lisboa. [S/d]. In-8º de 199, [9] págs. Br.

Primeira edição portuguesa (segunda geral) do romance e primeira propriamente da pequena novela, ou “conto alongado”, com direito a frontispício próprio, que o então adido cultural do Brasil em Portugal aproveitava para deixar – um «diálogo» lá em cima no Paraíso entre Jesus e São Pedro, que o/O pretendia convencer a permitir que os portugueses descobrissem a Madeira: “Senhor, deixa que os homens cheguem à minha ilha. O que resta do Paraíso terreal ali resta”. Por sua vez, pedia o autor ao leitor que nestas duas histórias “entre a leitura de uma e outra ponha o mesmo intervalo oceânico que separa o Vale do Parnaíba da Baía do Funchal”.
Foi com este livro que Odylo se deu cá a conhecer, sobretudo no meio que então frequentava, havendo por exemplo um capítulo que lhe é dedicado in as (e)vocações literárias, de A. M. Couto Viana. 
Não estando a edição datada, uma assinatura de propriedade no primeiro frontispício marca o ano de 1967.
 
7€

Lígia Fagundes Teles ― Antes do Baile Verde

Edição «Livros do Brasil» Lisboa. [S/d]. In-8º de 229, [3] págs. Br.

“Uma história de carnaval brasileiro, Avant le Bal Vert, valeu a Lygia Fagundes Telles o Grande Prémio Internacional Feminino para Estrangeiros em Língua Francesa, num concurso efectuado em Cannes, em 1969. Vinha essa vitória juntar-se às numerosas colhidas no Brasil por essa autora. Ao conto vencedor ela acrescentou outros, novos, e alguns de fases anteriores, especialmente reescritos para a presente edição”, não parecendo evidente se a nota se refere a esta, primeira portuguesa, ou à original brasileira que saíra talvez pouco antes (1970).
 
Exemplar por estrear.
 
10€

João Neves da Fontoura ― Orações Dispersas

Dois Mundos, editora lda. (Distribuidores: Livros do Brasil – Lisboa / Livros de Portugal – Rio). [S/d]. In-8º de 214, [2] págs. Br.

Constitui este livro do jornalista e político brasileiro uma colectânea de discursos pronunciados entre 1936 e 1942, com capa de Manuel Lapa. Das conferências aqui acopladas, a mais conhecida será «A Mocidade do Sr. Getúlio Vargas», de quem foi embaixador em Portugal (salvo erro logo nos anos seguintes ao desta publicação) e ministro. A ligação ao nosso país não será de estranhar tratando-se de um descendente de transmontanos pela via paterna. 

Exemplar por estrear, com as folhas ainda por abrir e em muito bom estado, descontando pequenas manchas que afectam muito levemente a base das margens e, sobretudo, a face inferior da capa.
 
12€