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O fantasma de Saramago

«O fantasma de Saramago, ou o misterioso caso do escritor que se esquecia dos livros que escreveu»

(Explicando:
- No mês em que se celebra Saramago, quase toda a nossa imprensa entrevista Lobo Antunes. Tirem as vossas conclusões, não parecendo nada tolas as que apontem para a vontade do entrevistado.
- A entrevistadora pergunta-lhe pelos livros que escreveu, e ele "Não me lembro nada disso. Trata de quê?")


Tirando a parte anedótica, é talvez das entrevistas mais desinteressantes da história da literatura, mas pode interessar muito como caso clínico. "Quando é que eu fui feliz?", pergunta alguém que a 66 questões da entrevistadora responde 62 vezes na primeira pessoa, o que parece francamente mais inédito do que o novo livro em vias de publicação, seja ele qual for, e trate do que tratar, verbo, esse sim, agora sim, feliz.

Psicólogos, psiquiatras, demais profissionais da saúde mental e gente sem nada de especial para fazer podem aceder à coisa aqui

José Saramago — Memorial do Convento (5.ª ed.)

editorial Caminho, O Campo da Palavra (1985). In-8º de 357, [3] págs. Br.

“O seu Memorial do Convento é um dos romances do nosso tempo que mais me emocionaram e mais me engrandeceram como ser humano”, terá dito Umberto Eco, autor do não assim tão afastado O Nome da Rosa, a Saramago – que com ele viu sublinhada e reforçada a consagração já começada após Levantado do Chão, e nele tem até hoje o seu título mais célebre.

Exemplar usado e com significativo desgaste exterior.

10€

José Saramago — O Ano da Morte de Ricardo Reis

editorial Caminho, o Campo da Palavra. (1984). In-8º de 415, [I] págs. Br.

Primeira edição daquele que muita gente considera o opus magnum de Saramago, mosaico da Lisboa dos anos inaugurais do Estado Novo com o início da guerra civil espanhola como pano de fundo – após a morte de Fernando Pessoa, em Novembro de 1935, o romancista põe o seu heterónimo das Odes a regressar desde o Brasil a Portugal, num exercício (duplamente) ficcional extraordinário.
 
30€   

José Saramago — A Bagagem do Viajante

A Bagagem do Viajante (Crónicas / 2.ª edição)

Caminho, o Campo da Palavra. (1986). In-8º de 241, [3] págs. Br. 

Segunda edição do livro originalmente dado a lume em 1973 pela Futura, que foi o quarto do escritor; junto com o terceiro, Deste Mundo e do Outro, um dos dois únicos volumes de crónicas que publicou.
Exemplar bem conservado, mas com assinatura de propriedade na folha de guarda, alguns vestígios de acidez e ligeiros vincos na capa.
 
12€

José Saramago — A Jangada de Pedra

Caminho, o Campo da Palavra. (1986). In-8º gr. de 330, [2] págs. Br.

Primeira edição de um dos mais celebrados e mesmo internacionalmente aclamados livros do autor.
Exemplar em bom estado, tendo só algumas marcas na capa e o habitual - mas aqui ainda muito ténue - escurecimento das margens do papel.
 
25€

José Saramago — História do Cerco de Lisboa

Caminho, o Campo da Palavra. (1989). In-8º gr. de 348, [4] págs. Br.

Edição original de um dos principais romances do autor – amiúde considerado, com Memorial do Convento e O Ano da Morte de Ricardo Reis, como lhe devendo integrar o pódio.

Três exemplares disponíveis.

28€

José Saramago — Todos os Nomes

Caminho, o Campo da Palavra. (1997). In-8º de 279, [3] págs. Br.

Foi a edição original do romance, último título publicado por Saramago antes de receber em 1998 o Nobel.
 
18€

José Saramago — Levantado do Chão

Levantado do Chão (Romance / 3.ª edição)

editorial Caminho / Colecção «O Campo da Palavra». (1982). In-8º de 366, [2] págs. Br.

Segue a segunda edição pouco precedente, de que aproveita a capa e a mancha gráfica.
Exemplar com um vinco e pequenos defeitos no canto superior direito da capa e das folhas iniciais.
 
10€

O Nobel de Saramago na imprensa internacional

A 9 de Outubro de 1998, conhecido o premiado com o Nobel da Literatura, começou uma longa sequência de notícias e reportagens acerca de José «Saramágico» na Europa Ocidental e na América Latina. Durariam semanas, e na Península Ibérica meses. As linhas de força das reacções à atribuição do prémio foram duas: a de finalmente ser reconhecida a língua portuguesa, senhora de uma literatura muito respeitável desde o Cancioneiro medieval luso-galaico, passando por Camões, depois Garrett e desembocando no «século de ouro» XX com Pessoa em destaque (perdoai-lhes, que não sabem mais...); e a de o Nobel voltar a contemplar a literatura-a-sério, depois de algumas derivas bastante discutíveis (ainda não tinham visto nada...).
Em Espanha, logo nesse dia seguinte o escritor português - já então a viver em Lanzarote, após a polémica com O Evangelho Segundo Jesus Cristo e o governo português de Cavaco e do secretário de Estado Sousa Lara a tomar-se das dores da ortodoxia católica - faz capa em grande parte da imprensa de referência, que apresenta quantidade considerável de peças assinadas por outros escritores, espanhóis, como Manuel Rivas, Enrique Vila-Matas, Arturo Perez-Reverte, Manuel Vasquez Montalban, etc. Aqui fica o início da de Juan Manuel de Prada no «ABC»: 
 
"O prémio Nobel não conta entre as suas virtudes com a da infalibilidade; talvez por isso, quando acerta, a reacção de quem acolhe os seus ditames com cepticismo, junta a perplexidade ao alvoroço. Ao premiar José Saramago, a assembleia dos académicos suecos não se limita a reparar uma obscena e demasiado repetida injustiça; dirigiu também o seu veredicto para a literatura em estado puro, sem condimentos políticos, folclóricos ou sociológicos, essas rémoras que nos últimos anos têm enturvado o elenco dos ganhadores, com nomes tão discutíveis ou estranhos como Morrison ou Fo.
Foi premiado um homem na plenitude dos seus recursos, entregue a uma obra que em cada título incorpora novos motivos de deslumbramento. Em 1985, quando foi publicado «O Ano da Morte de Ricardo Reis», Saramago era para nós um escritor quase secreto, mas desde aí a sua envergadura literária e moral continuou a crescer, com um vigor impetuoso, dono de uma coerência interna que distingue os mestres."

8 de Outubro de 1998

Faz hoje vinte anos que uma sua futura leitora muito ilustre celebrava o 16º aniversário e José Saramago era como nós todos informado de que a Academia Sueca lhe atribuíra o Nobel da Literatura. Foi a primeira - e, até hoje, única - vez que um escritor de língua portuguesa saiu premiado com o título. Pascoaes, Ferreira de Castro, Aquilino e Torga, portugueses, Guimarães Rosa e Jorge Amado, brasileiros, tinham sido entre muitos outros aventados em vão. Lobo Antunes auto-aventa-se todos os anos dizendo que não quer, mas não parece que venha a ter melhor sorte, coitado. O autor de «Todos os Nomes», publicado precisamente antes do prémio, foi o único nome a merecer a honra.

Podemos desdenhar dos prémios literários em geral e do Nobel em particular, podemos distanciar-nos de algumas posições políticas de Saramago (e desde logo do seu credo comunista), podemos achar pouca graça a uma certa rigidez da personagem, podemos tudo. Mas repare-se num homem que é criado por avós camponeses ribatejanos analfabetos e por pais ainda iletrados, faz a sua aprendizagem com dificuldades económicas nas escolas públicas e as suas leituras nas bibliotecas públicas, descobre a literatura, torna-se tradutor e editor, primeiro, depois jornalista e escritor, escreve romance após romance após romance e ganha assim, vindo do nada, feito do nada, pela primeira vez o Nobel. É razão suficiente para lhe dedicarmos este mês de Outubro, em exclusivo.

 
[Na imagem: «O dia em que Saramago ganhou o Nobel», ilustração de Gonçalo Viana]