livraria on-line

Livraria / Editora / Alfarrabista } { Porto bibliographias@gmail.com / 934476529

.

.

Urbano Tavares Rodrigues ― Nus e Suplicantes (novelas)

Livraria Bertrand. 1960. In-8º de 147, [5] págs. Br.

Primeira edição de um dos títulos iniciais do autor, contendo as novelas «Crescei e Multiplicai-vos», «O Falso Pesquisador», «Oxalá», «A Dama de Trunfo» e «Nus e Suplicantes». Reproduz, nas abas, excertos de recensões críticas de Óscar Lopes, Álvaro Salema, João Gaspar Simões e Álvaro Campos, além de um retrato de Urbano T. Rodrigues à época.
 
Exemplar com pequenos defeitos.

12€

Um Natal português

Em Canelas, Vila Nova de Gaia, a população protesta há meses pela substituição do pároco - pretende o regresso do anterior e vitupera o actual, que vai insultando, entre outras razões, por ter cabelos e barbas compridos. Se não erro, todas as crónicas mais ou menos garantem que Cristo, precisamente, passou a vida nesse tipo de preparos (para além de não ter biblioteca nem perceber patavina de finanças, como sugeria o outro, também não consta que o Nazareno usasse cabelo rapado e brinquinho na orelha, como os gunas tugas - citadinos e aldeãos - contemporâneos). A Igreja esteve-se, desde o início, quase sempre nas tintas para o próprio fundador. Agora, estão até as populações, outrora o "rebanho", cada vez mais nas tintas para a Igreja e para o fundador. Querem rezar os seus próprios dogmas. "Creio em Jesus Cristo, filho unigénito de Deus, rapado e barbeado". Ou, tão-só, um CR derivado, de igual modo dado ao 7, 70x7, mas talvez algo menos à complicação metafísica: "Creio em Cristiano Ronaldo". Amen.
 
É Portugal/Carnaval, ninguém leva a mal. Bom Natal.

Jean-François Six ― Jésus

Éditions Aimery – Somogy. (1974). In-8º de 245, [11] págs. Br.

Dado a público na colectânea «Livre de Vie (les meilleurs livres de vie chrétienne)», o estudo do teólogo francês compreende as secções «La situation», «Au-dela de son pays: Jésus pour tout le monde», «L’humanité et la tendresse de Dieu», «Le pain et le vin, l’amour et la mort», «La ville sacrée», «La présence et le présent», «Nuit, silence et paix», «Et puis après?» e «Aujourd’hui, vingt siècles après sa naissance».

Bom exemplar, sem defeitos de maior.
 
6€

Emilio Bossi ― Jesus Christo nunca existiu

Jesus Christo nunca existiu / (Edição completa) / Traducção de Augusto de Castro // 4.ª edição

Editor: João Carneiro, Livraria do Povo Silva & Carneiro – Travessa de S. Domingos, 60. Composto e impresso na Typographia A. M. Antunes – Calçada da Glória, 6 a 10 – Trav. do Fala-Só, 1 e 5. Lisboa. 1909. In-8º peq. de 78, [4] págs. Br.

Pretendido um “exame que é absolutamente estranho a qualquer conceito theologico ou anti-theologico” e que “não visa outro fim que, só por amor á verdade, demonstrar que Jesus Christo nunca existiu”, o livro inclui as grandes secções de capítulos: «Christo na Historia», «Christo na Biblia», «Christo na Mythologia» e «Formação Impessoal do Christianismo»; tendo a capa – no exemplar, já com pequenas falhas – decorada por uma ilustração, não alusiva, em estilo Arte-Nova. Publicada na colectânea «Bibliotheca Popular», esta tradução foi uma das poucas conhecidas e um dos primeiros trabalhos literários de Augusto de Castro.

8

Arqueologia Literária (VI)

A casa fica a meia encosta. Por trás o mar bravo dos pinheiros, em frente os montes solitários: a tarde tinge-os de oiro e à noite o granito compacto esvai-se ao luar como um fantasma. Este cantinho rústico criei-o eu palmo a palmo. Tudo isto foi pedra e uma árvore contemporânea da fundação da monarquia. O carvalho centenário cobria todo o eido. Era enorme, era prodigioso. No tronco, que nem seis homens podiam abranger, tinham os bichos as luras, e a ramada imensa era a moradia de todas as aves. Seu hálito sentia-se ao longe. Logo que o vi fiquei apaixonado. - Vamos viver juntos, vou envelhecer ao pé de ti. - Nós não ouvimos as árvores, mas a sua alma comunica sempre connosco: sua força benigna toca-nos e penetra-nos... Quando voltei de Lisboa o caseiro tinha-o deitado abaixo. Ainda hoje faz parte da minha vida, ainda hoje sonho com ele.
Construí a casa, plantei as árvores, minei as águas. Absorvi-me. Uma pedra basta, basta-me um tronco carcomido... Este tipo esgalgado e seco, já ruço, que dorme nas eiras ou sonha acordado pelos caminhos, sou eu. Sou eu que gesticulo e falo alto sòzinho, envolto na nuvem que me envolve e impregna. Que força me guia e impele até à morte?... Este sonho, reconheço-o, não é só meu - é o de minha mãe realizado, é o dos outros mortos que me rodeiam. E o meu sonho? - pergunto - o meu sonho quem o realizará jamais?...
 
(Não nenhum filho, que Raul Brandão os não teve, nem por isso nenhum consequente descendente, cuja tarefa seria aliás árdua: não fez o homem outra coisa senão sonhar, só nos intervalos escrevendo. A casa era a do Alto, em Nespereira, Guimarães. E o texto - mais tarde publicado no segundo volume das Memórias, com alterações pontuais e de plano - inicia Sombras Humildes: Páginas de Memórias, e saiu no n.º1 da Seara Nova, em 1921) 

César de Frias ― Poesias Religiosas da Língua Portuguesa

Cem das melhores poesias religiosas da língua portuguesa: coligidas por César de Frias

Lisboa, Livraria Editora Guimarães & C.ª, 1932. In-8º de 167, [1] págs. Br.

A recolha começa em Sá de Miranda e acaba nos poetas do início do séc.XX. Como em qualquer antologia, os critérios serão mais ou menos discutíveis, havendo aqui dois a notar: um deles, a ausência dos trovadores medievais (essa, o antologiador explica), o outro o aparente desequilíbrio que confere um peso, apesar de tudo, excessivo ao séc.XIX. É, ainda assim, uma recensão com interesse, e inspirou directamente José Régio para a que preparou com Alberto de Serpa, a apresentar já de seguida.

Exemplar em razoável estado geral, mas algo desvalorizado por manchas de humidade, de forma mais ou menos pronunciada ao longo do volume.

10€

Cancioneiro da Virgem: Compilação de Anthero Pacheco Moreira

Porto, Casa Editora de A. Figueirinhas, 1926. In-8º de 192 págs. Br.

Primeira edição de uma recolha de “algumas das melhores poesias que o estro portuguez compoz sob a inspiração da Virgem Maria (…) desde a quadra popular, simples, imperfeita, ingenua, por vezes sem rima, ao soneto impecavel de metrica e prodigioso de inspiração, de tudo, de tudo se encontra no presente volume, no qual vibra, luminosa e cantante, a alma de Portugal”.
Composições de Gil Vicente, Bocage, Garrett, João de Deus, Camilo, Júlio Dinis, Antero, Junqueiro, Pascoaes, etc.

Exemplar em muito bom estado, apenas com algum escurecimento das margens do papel.
 
12€

8 de Dezembro, dia de Florbela

Passam 120 anos sobre o nascimento de Florbela Espanca, que em 365 teve o mesmo dia para nascer e morrer; se disso soubesse em vida, mais supersticiosa ficaria.

[Vila Viçosa, 8 de Dezembro de 1894 ― Matosinhos, 8 de Dezembro de 1930] 

Fernando Pessoa ― Rosea Cruz

Rosea Cruz (Textos em grande parte inéditos, coordenados e apresentados por Pedro Teixeira da Mota)

Edições Manuel Lencastre, 1989. In-8º de 268, [4] págs. Br.

Conjunto de textos (a maioria, inéditos, segundo afiançava o organizador na «Apresentação») do espólio em depósito na Biblioteca Nacional, recolhidos pela inspiração ocultista que faz este volume complementar os que Pedro Veiga publicara ainda durante a primeira metade do século na sua «Arte e Cultura». Como ilustração foram reproduzidos alguns manuscritos de Pessoa e gravuras antigas.

Exemplar por estrear, em condição irrepreensível.
 
25€

Fernando Pessoa (trad.) ― Compendio de Theosophia

Compendio de Theosophia (Traducção de Fernando Pessoa)
 
Lisboa: Livraria Clássica Editora de A. M. Teixeira (17, Praça dos Restauradores, 17), 1915. In-8º de 191, [1] págs. Br.
 
Juntamente com as outras traduções de títulos esotéricos que fez também para a Clássica, e com os bem sabidos  saídos em nome próprio, foi este um dos poucos livros publicados em vida por Pessoa, na colecção «Theosophica e Esoterica». O autor do tratado, Charles Webster Leadbeater, a princípio sacerdote anglicano, viria depois a integrar a «Theosophical Society» nova-iorquina em finais do séc.XIX.
 
Exemplar em brochura, cuidado, sem defeitos dignos de realce.

37€

Fidelino de Figueiredo ― Mariana Alcoforado

Coimbra: Imprensa da Universidade, 1920. In-4º de 12 págs. Br.

Primeira edição independente, em separata de «O Instituto», com tiragem limitada a 50 exemplares; estando este relativamente bem conservado (dada a fraca qualidade do papel), mas com alguma acidez na capa.
 
8€ 

António José Saraiva ― Inquisição e Cristãos-Novos

Editorial Inova □ Porto. (1969). In-8º de 319, [9] págs. Br.

Publicado na colecção «Civilização Portuguesa» da Inova com o habitual arranjo gráfico de Armando Alves, o estudo de Saraiva, aqui em primeira edição, é com os de Herculano, António Baião e Raul Rego já um dos nossos mais considerados títulos sobre o tema.

Exemplar em bom estado, sem defeitos a destacar. 

20€ 

O Livro na Arte (IX)

Ao autor destas linhas (tem também o lume aceso, e põe agora mesmo mais uma acha na fogueira: 4º lá fora) sempre pareceu haver duas coisas que combinam particularmente bem com bons livros: o vinho tinto maduro e o fogo, lá está. Quanto à primeira combinação, já deve ter vindo nos genes paternais, e não haverá muito como a explicar a um abstémio ou a um iletrado. Quanto à segunda, dá pano para várias mangas. Desde logo, a de pensar na obsessão que os mais fanáticos dos não leitores - se lessem, passava-lhes depressa o fanatismo: remédio santo contra a guerra santa - sempre tiveram em queimar livros: é um clássico desde os inquisidores, com passagem pelos nazis, todos menos dados a ler do que apregoavam. Hipótese 1: quem não tem neurónios para queimar, e não escapa à pulsão pirómana do descendente de Neanderthal, opta pelos livros. Hipótese 2, nada incompatível mas de mais consequências: quem não lê, gosta de fazer arder os livros e mais quem os lê; quem não pensa, gosta de queimar quem pensa e o próprio pensamento (nota: ainda na chamada era digital, nada que simbolize o pensamento tão bem como um livro; não é só por não serem tão combustíveis, nem por serem consideravelmente mais caros, que ninguém queima e-books).

Alheia a todas estas e quaisquer outras considerações, a rapariga lê, e o fogão de sala, ao fundo, trabalha o tempo.
[Florence Fuller, que por 1900 pintou a óleo o quadro, chamou-lhe «Inseparáveis»]