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Quando o Nobel era uma «Forêt Vierge»...


Ainda a propósito de prémios, do Nobel e de Ferreira de Castro. Que várias vezes fôra já apontado no estrangeiro como merecedor do galardão mas, em 1959, o foi com particular insistência. Conta Jaime Brasil na biografia «A Obra e o Homem» que o Figaro indicava o romancista português e Alberto Moravia como os dois candidatos a vencer nesse ano - aos quais outros jornais parisienses acrescentavam o nome de Jean-Paul Sartre. Em Portugal, e sobretudo no Brasil, a ideia ganhou asas. Porém, quando Aquilino Ribeiro vê apreendido pela Censura Quando os Lobos Uivam, e se lhe abre o famoso processo criminal, um conjunto de escritores sugere à SPE a apresentação de uma candidatura em seu nome - e à qual Ferreira de Castro manifesta desde logo apoio, desistindo de uma própria.
Não sabendo até que ponto isto seria assim, e uma candidatura nessa época requeresse a anuência do candidato, aqui fica a história. E aqui fica a desistência «oficial» de Ferreira de Castro em carta ao vespertino República igualmente para 1960:
 
(...)
Mas como, na segunda parte da notícia, se diz que a Sociedade de Escritores, na sua próxima reunião, poderá manifestar a sua concordância com as presumíveis candidaturas de Aquilino Ribeiro e de Ferreira de Castro, bem como a de Miguel Torga, para o prémio deste ano, eu gostaria de esclarecer também que não pretendo ser candidato, pois não desejo estabelecer qualquer concorrência, por insignificante que fosse, com aqueles meus dois ilustres camaradas de letras, cujas obras tanto admiro.
 
Cabe recordar que o vencedor do Nobel em 1959 seria Salvatore Quasimodo e em 1960 o muito recomendável Saint-John Perse (em 1958 tinha sido Pasternak, de quem Aquilino era adepto, e em 1957 Albert Camus, que era adepto de Ferreira de Castro).
E que tamanho prestígio do romancista português em terras francesas talvez se devesse ao 
sucesso estrondoso de A Selva, lá editado dezenas de vezes desde 1938 até ainda hoje, com a honra de o tradutor ter sido nem menos que o poeta Blaise Cendrars - que conheceu e se tornou amigo de Ferreira de Castro muito antes, no Brasil.            

Ferreira de Castro, primeira «Águia de Ouro»


Antes de Saramago, o único romancista português a conhecer em vida assinalável projecção no estrangeiro foi um hoje quase esquecido Ferreira de Castro - vencedor, por essa razão, do prémio internacional mais digno de nota atribuído a um ficcionista luso antes do Nobel que há 20 anos consagrou o autor de Memorial do Convento. Chamava-se, como o velho cinema e o extinto café literato do Porto onde um antepassado romancista jeitosinho - Camilo Castelo Branco - assentava arraiais, «Águia de Ouro»; mas foi concedido pelo município de Nice, onde então se organizava um importante festival literário. Teve nesse ano (1970) que distinguiu um dos nossos Emigrantes a sua primeira edição, correspondente à segunda do certame, que continua a realizar-se até hoje.
O júri era de peso: além do novelista lisboeta Joaquim Paço de Arcos, incluía, entre outros, nomes como os de Hervé Bazin, Jean Albert Sorel, Miguel Angel Asturias, Alba de Cespedes, Gore Vidal e Isaac Singer. E foi o próprio Paço de Arcos quem contou a história.
Depois de sucessivos filtros, alinhavam-se no final como principais candidatos Ferreira de Castro, Lawrence Durrell e Konstantin Simonov - e recorde-se que quer o inglês quer o russo viriam a ganhar o Nobel. As coisas pendiam para Durrell, senhor já nessa época de muita fama, até que no almoço decisivo o criador de Ana Paula diz ter sacado um discurso em louvor do seu compatriota tão mas tão eloquente que conseguiu a eleição por unanimidade: mencionando-se explicitamente que se premiava também a importância da literatura portuguesa; donzela, como se sabe, até aí pouco habituada a panegíricos e pedestais.
Mas talvez pouco se saiba deste episódio, que por isso aqui fica.

Ferreira de Castro — A Morte Redimida

Porto, Livraria e Imprensa Civilização – Editora. 1925. In-8º de 75, [5] págs. Br.

Primeira edição (e única independente) de um dos trabalhos iniciais de Ferreira de Castro, com dedicatória impressa a Stanislawa Umiuska.

Exemplar valorizado por dedicatória manuscrita do autor na folha de guarda; em muito bom estado, sem defeitos de relevo e apresentando as folhas praticamente limpas.

36€

Ferreira de Castro — O Drama da Sombra

O Drama da Sombra (novela / capa de Jorje [sic] Barradas)
 
Edição da Empresa Diario de Noticias, Lisboa. (Foi este livro composto e impresso na oficina «Ottosgrafica»). [S/d – 1926?]. In-8º de 91, [7] págs. 
 
Encadernação modesta em percalina, sem conservar qualquer capa, de par com:

O Homem dos Dois Corações (novela / capa de Jorge Barradas), de Rocha Martins, 92, [4] págs; mesma editora, mesma composição e presumivelmente mesma data.
 
23€

Ferreira de Castro — a epopeia do trabalho (desenhos de Roberto Nobre)

Livraria Renascença / Joaquim Cardoso, editor (27, Rua dos Poiais de S. Bento, 29) ―――― Lisboa. In-8º de 139, [5] págs. Br.

Alguns dos capítulos deste livro cuja ideia muito deve a Raul Brandão, a cada um correspondendo um dos bons desenhos capitulares do artista algarvio: «Os pescadores», «Os cavadores», «Os mineiros», «Os ferreiros», «Os fundidores», «Os tipógrafos», «Os escritores», «Os ceifeiros», etc.
Primeira e única edição, rara.

Exemplar tocado por acidez na capa e nas folhas iniciais e finais.
 
32€ 

Ferreira de Castro — Sendas de Lirismo e de Amor

Sendas de Lirismo e de Amor (novelas por Ferreira de Castro) / (2.º milhar)

Edições Spartacus / Lisboa – 1927. In-8º de 166, [2] págs. Br.

Edição original de um dos livros primitivos de Ferreira de Castro; contendo, entre outras, as novelas «O bibliomano», «O segrêdo do suicida», «O relógio da morte», «A odisseia do poeta» e a mais conhecida «Carta de reabilitação».
Marcas de acidez na capa; no miolo, mais ligeiras, de frequência esparsa e sempre marginais. A mesma discreta assinatura de propriedade na folha preliminar.

25€

Ferreira de Castro — O Vôo nas Trevas (novelas)

Porto, Livraria e Imprensa Civilisação (Américo Fraga Lamares & C.ª, Lda – Editores). 1927. In-8º de 347, [5] págs. Br.

Primeira e única edição do último dos livros iniciais/renegados do autor, ilustrada na capa por um trabalho original de Bernardo Marques. Com uma curiosa nota final, toda impante, que se passa a transcrever: “É um preconceito literário, revelador de mesquinhez de espirito, enumerarem-se as erratas. Não ha, no nosso seculo impaciente e dinamico, ninguem que tenha pacatez necessaria para chegar ao fim duma obra, que é onde se fazem as corrigendas, e voltar atraz, para ver a parte corrigida. (…) Ou o leitor acredita na inteligencia do autor e onde encontar o mal julgal-o-ha por bem, ou não acredita e nesse caso não deve ler jamais uma obra que lhe inspira duvidas.”
Exemplar em bom estado, salvo uma pequena falha de papel na face inferior da capa e uma ligeira assinatura de propriedade na folha preliminar, de anterrosto.

30€

Ferreira de Castro — Emigrantes

Emigrantes / Romance («Há que descontar por cada um que regressa rico, milhares de desgraçados que perderam a vida ou esmolam o repatriamento»)

Livraria Renascença / Joaquim Cardoso, Editor / (27, Rua dos Poiais de S. bento, 29) Lisboa. (1928). In-8º de 335, [1] págs. Enc.

“Êste livro não é contra o Brasil – é contra a emigração, é contra os que no Brasil e em Portugal exploram o emigrante, contra os que fazem duma enormíssima legião de homens ingénuos uma montanha de destroços, de farrapos, de vencidos” (do epílogo). Edição original daquele que foi, juntamente com o também brasiliano A Selva, o mais celebrado romance do autor, ele próprio ex-emigrado adolescente em terras de Vera Cruz.
Exemplar recoberto de modesta encadernação que não conserva a capa de brochura. No miolo, o papel permanece em bom estado, apesar de algumas folhas marcadas por manchas antigas de humidade.
 
40€

Ferreira de Castro — A Curva da Estrada (romance)

Livraria Editora Guimarães & C.ª. Lisboa. (1950). In-8º de 320, [4] págs. Br.

Primeira edição, incluindo um prefácio do autor.

Exemplar em bom estado, salvo leve desgaste da capa e ligeiros (e pontuais) vestígios de acidez no miolo, só um tanto mais acentuados nas folhas de guarda.

18€
 

Ferreira de Castro — A Missão: Três Novelas

Livraria Editora Guimarães & C.ª. Lisboa. (1954). In-8º de 342, [2] págs. Br.

Primeira edição, reunindo as novelas «A Missão», «A Experiência» e a mais famosa, com publicações autónomas, «O Senhor dos Navegantes».
Exemplar da série corrente; em muito bom estado, sem qualquer defeito de relevo – só alguns ténues vestígios de acidez.
 
20€

Ferreira de Castro — Terra Fria

Terra Fria (romance / 7.ª edição / 25.º milhar)

Livraria Editora Guimarães & C.ª, (68, Rua da Misericórdia, 70) Lisboa. (1953). In-8º de 299, [3] págs. Br.

“Depois da minha estadia em Andorra, desejei conhecer esta gente barrosã, humilde e boa, que vive no extremo de Portugal como se vivesse no extrem do Mundo e que, formando paralelo com os camponeses daquela pequena república, me atraía com os seus hábitos patriarcais e a sua existência aparte, entre céu e montanhas”, assim apresentava o autor o livro no habitual «Pórtico».

Capa de Bernardo Marques.
 
5€

Ferreira de Castro — Terra Fria

Terra Fria (Romance / Com um Posfácio especial para esta edição) // Ilustrações de Bernardo Marques / Vinhetas de Infante do Carmo

Guimarães Editores. (1966). In-4º de 258, [6] pags. Br.

Edição especial, ilustrada e em maior formato, comemorativa do cinquentenário de vida literária de Ferreira de Castro (entretanto já dobrado em 2016 com comemoração em 2017); impressa sobre bom Papel do Prado tendo as gravuras das sanguíneas do artista algarvio sido executadas nas oficinas dos irmãos Bertrand.

Exemplar por estrear, com os cadernos por abrir.
 
40€

Ferreira de Castro — A Tempestade

Lisboa, Livraria Editora Guimarães & C.ª. 1940. In-8º de 325, [3] págs. Br.

Primeira edição de um dos principais romances do autor, com a capa ilustrada por Jorge Barradas e um «Pórtico» de dedicatória – num texto extenso – a um amigo que não chega a ser nomeado.

Exemplar valorizado por dedicatória de oferta manuscrita por Ferreira de Castro a Neves Águas, de quem ostenta o ex-libris. Com algum desgaste exterior (pequenas marcas e falhas de papel na capa); miolo melhor, descontando apenas vestígios de humidade nas folhas preliminares e leves marcas de acidez, muito pontuais, ao longo do volume. 
 
25€

Ferreira de Castro — A Tempestade

Lisboa, Livraria Editora Guimarães & C.ª. 1940. In-8º de 325, [3] págs. Br.

Outro exemplar da mesma edição original, este revestido de uma superior encadernação recente com cantos e lombada em pele gravada a ouro, conservando a capa primitiva e estando ainda valorizado por um autógrafo manuscrito do romancista.

45€

Ferreira de Castro — As Maravilhas Artísticas do Mundo

As Maravilhas Artísticas do Mundo (ou a Prodigiosa Aventura do Homem através da Arte)

Empresa Nacional de Publicidade (1958-1963). 2 vols. in-4º gr. Enc.

“Este livro será, pois, com as maravilhas que o génio dos artistas tem deixado no Mundo, a história, muito pálida embora, do esforço do homem através dos tempos, através de todos os obstáculos, de todos os sacrifícios e de todas as dores, para transcender a sua própria condição, para ultrapassar os limites que a própria natureza lhe deu”, assim rematava Ferreira de Castro o seu texto de «Pórtico» em que apresentava esta recolha.

Primeira edição, de bastante esmero gráfico, impressa sobre bom papel e abundantemente ilustrada ao longo de ambos os volumes por estampas a cores e p/b, incluindo grandes clichés em folhas destacadas; muito bem encadernada inteiramente em pele gravada a ouro e a seco, que porém apresenta já nestes exemplares ligeiras escoriações nas lombadas, como com frequência acontece.
 
85€     

Alexandre Cabral — Ferreira de Castro: o seu drama e a sua obra

Lisboa, Portugália – Editora. 1940. In-8º de 136, [4] págs. Br.

Primeira edição de um dos livros iniciais de Alexandre Cabral, já invulgar. Inclui a «Bibliografia completa de Ferreira de Castro» até essa data e, a terminar, o longo (de 60 páginas) capítulo «Romancistas portuguêses contemporâneos», principal ponto de interesse do trabalho, que começa por uma rápida teoria do romance enquanto género literário e logo se estende em considerações sobre o romance português daquele tempo – entre críticas superficiais, mas afiadíssimas e violentas, a escritores como Antero de Figueiredo, Manuel Ribeiro e Nuno de Montemor e elogios às então «novas promessas» Fernando Namora e Alves Redol, rematando com um extenso período de louvor a Aquilino (que, ainda assim, considera não chegar a igualar Ferreira de Castro – juízo, naturalmente, mais do que discutível).

Exemplar valorizado por dedicatória manuscrita (em 1945) do autor a José Águas. Em muito bom estado, salvo algum desgaste da capa e uma por outra pequena mancha no miolo.

17€ 

Jaime Brasil — Ferreira de Castro

Editora Arcádia / a Obra e o Homem. (Composto e impresso nas oficinas gráficas da Editorial Minerva – Rua da Alegria, 30 – Lisboa em Maio de 1961). In-8º de 273, [3] págs. Br.

Foi o sexto título publicado nesta conhecida colecção de biografias literárias, constando dos capítulos «A Terra», «A Infância», «O Amor», «O Emigrante», «A Cultura», «O Jornalismo», «O Regresso», «O Ficcionista», «O Escritor», «O Grande Viajante», «O Homem e a Arte», «O Prestígio Internacional»; a que se seguem extensas recensões de bibliografia, de documentos e de textos em antologia.

10€

In Memoriam de Ferreira de Castro

In Memoriam de Ferreira de Castro (Introdução e Estruturação de Adelino Vieira Neves)

Arquivo Bio-Bibliográfico dos Escritores e Homens de Letras de Portugal. (Composição e impressão nas Oficinas Gráficas da Livraria Editora Pax, Braga, 1976). In-4º de 287, [3] págs. Br.

Contribuições – na maior parte, para o efeito, e algumas outras pela recuperação de textos anteriores – de Jaime Brasil, Jacinto do Prado Coelho, Fernando Namora, Nemésio, Agustina Bessa-Luís, Ruben A., Cruz Malpique, António Quadros, José Rodrigues Miguéis, Joaquim Paço d'Arcos (que conta a história da atribuição do prémio de Nice, na qual teve papel determinante, ao romancista compatriota), Pinharanda Gomes, Judith Navarro, Bigotte Chorão, etc. Inclui ainda a reprodução de documentação vária e uma muito detalhada relação bibliográfica, nacional e internacional. Tudo somado, peça fundamental na bibliografia do escritor, que já hoje vai escasseando apesar da tiragem relativamente ampla que anunciava (entre 2750 e 3000 exemplares).
O volume foi abundantemente ilustrado em folhas de papel couché.

Exemplar bem cuidado, descontando um pequeno vinco no pé das folhas ao longo da primeira metade do volume e o ligeiro desgaste da capa.
 
25€

Eurico de Andrade Alves — Visita ao Seringal «Paraíso»

[S.L.N.D. – 1986?]. In-4º de 116 págs. Br.

Edição publicada «In Memoriam» de Ferreira de Castro, de tipo policopiado e portanto tiragem presumivelmente restrita, agrupando documentação variada – fotografias, crónicas na imprensa, reportagens, excertos críticos, etc. – mas sempre relativa ao escritor de A Selva e Os Emigrantes e/ou ao cenário amazónico em que se moveu quando adolescente, também ele, emigrante (sobretudo, Manaus, o rio Madeira e a cidade de Humaitá, defronte do seringal). Muito redundante/enredada, terá ainda assim, além do interesse propriamente documental, alguns apontamentos (mais biográficos do que bibliográficos) de relevo acerca do romancista; estando este exemplar valorizado por uma dedicatória de oferta manuscrita pelo autor em folha individual colada sobre a de rosto.
 
15€

De-Coração das Casas

[Aquilino Ribeiro, (primeira) mulher, filho e biblioteca; Ferreira de Castro, mulher, filha e biblioteca]