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Raul Brandão ― Memórias (1.º Volume)

Edição da «Renascença Portuguesa», Porto. (1919). In-8º de 326, [2] págs. Enc.

Edição original do primeiro volume de um conjunto que é documento fundamental do penúltimo entresséculo e do primeiro quartel do séc.XX, talvez, em panorama, o melhor para a compreensão dos tempos finais da monarquia e do advento da República.

Exemplar coberto de encadernação modesta que não conserva, de resto, a capa de brochura; e maculado por assinatura de propriedade no rosto.
 
22€

Raul Brandão ― Memórias (Volume II / 2.ª edição)

Livrarias Aillaud & Bertrand / Paris-Lisboa. (MCMXXV). In-8º de 296, [2] págs. Enc.

Este segundo volume foi dedicado ao já então maior amigo Pascoaes e conta com os capítulos «O Silêncio e o Lume» (para a mulher Maria Angelina, tremendo de belo), «O meu Diário», «Ainda o Regicídio», «Vivos e Mortos» e «Os Ultimos Anos de Junqueiro».

Exemplar revestido da mesma encadernação, também sem a capa primitiva.
 
14€
 
 

Amplas almas

Suponho que ninguém se atreva a discutir a Angelina e Raul Brandão o estatuto de mais enternecedor casal de toda a literatura portuguesa.
Conheceram-se por 1896, em Guimarães, onde o portuense começava a breve carreira militar de que muito cedo se reformaria. Casaram. E a partir daí, segundo consta, nunca mais se largaram um ao outro. Narra a irmã de Pascoaes que, visitando este com ela pela primeira vez a Casa do Alto, convidou à saída Brandão (como já várias vezes fizera por carta) para a retribuição da visita, acompanhando-o ao Marão. Esqueceu-se de estender o convite a Maria Angelina. Ela e o homem entreolhavam-se, olhavam para Pascoaes, tornavam a olhar um para o outro, e andou-se nisto algum tempo - até Maria da Glória perceber e chamar a atenção do irmão. Brandão explode: "Apre... Do que me livrou... É que eu nunca me separei de minha mulher!" Chegando, aliás, a levá-la para «A Brasileira do Chiado» lisboeta, numa época em que senhoras num café roçava o escândalo.
Por menos simpatizante que se seja do instituto do casamento, ninguém pode deixar de se deliciar com este.

Além da carta aqui transcrita há dias, é também de Maio de 1930 a publicação do livro que assinaram em conjunto, último saído em vida do escritor: esse igualmente delicioso Portugal Pequenino (aqui). Evidentemente, foi Raul a escrevê-lo. Mas nota-se aqui e ali a mão da mulher, entremeando na prosa alguma graça de humor e jovialidade apropriadas a um livro do género, só que de todo estranha ao espírito do marido. Quem nunca leu, mexa-se.

Voltando aos fulgurantes prefácios das Memórias, segue agora o final do segundo, «O Silêncio e o Lume» - longo texto que é das mais belas declarações de amor alguma vez feitas por um homem a uma mulher. Normalmente, fazem-se no início. Esta, foi feita no fim, os dois já de cabelos brancos, apesar da diferença de idade. "Enternecedor" é capaz de ser pouco.

[Não deixaram descendência. Esgotaram-se um no outro.
Um Coração e uma Vontade seria o título do livro de memórias de Angelina já viúva.] 

Raul Brandão ― Humus

Edição da «Renascença Portuguesa», Porto. (1917). In-8º de 334, [2] págs. Enc.

Primeira edição do livro magno do autor, por muita (e boa) gente considerado também a peça magna da prosa portuguesa de todo o séc.XX – cujo magno poeta, Herberto Helder, a viria a transladar a verso na década de 60.

Exemplar revestido de encadernação modesta e sem conservar a capa de brochura. Pertenceu ao tenente Leopoldo Carmona (oficial do Corpo Expedicionário Português à Flandres durante a Grande Guerra), de quem tem o carimbo, a assinatura a tinta e sublinhados a lápis de cor.
 
50€

Raul Brandão ― Humus

Editores: Renascença Portuguesa – Porto / Annuario do Brasil – Rio de Janeiro. (1921). In-8º de 236, [4] págs. Enc.

Segunda edição, impressa no Brasil e, como se sabe, com alterações significativas: desde logo, a pura e simples supressão do bastante significativo capítulo final «Vêm ahi os desgraçados», porventura com algumas raízes mais ou menos conscientes no conturbadíssimo contexto político da época.

Exemplar revestido de muito boa encadernação com cantos e lombada em pele gravada a ouro e as pastas em efeito tábua. Conserva por inteiro a capa primitiva, que nesta série para a Renascença (menos frequente do que a do Anuário do Brasil, de capa lisa) foi ilustrada na frente por José Tagarro. 
 
(40€)    

Raul Brandão ― A Morte do Palhaço e o Mistério da Árvore


A Morte do Palhaço e o Mistério da Árvore de Raul Brandão / (Ilustrações de Martinho da Fonseca)

Edição da «Seara Nova» (Praça Luís de Camões, 46, 2.º) – Lisboa. MCMXXVI. In-8º de 287, [5] págs. Enc.
 
Primeira edição deste livro que respiga o anterior História de um Palhaço. Com os capítulos: «K. Maurício», «A casa de hóspedes», «Halwain», «Camélia», «Sonho e realidade», «A última farsa», «Diário de K. Maurício», «Os seus papeis», «A luz não se extingue», «O mistério da árvore», «Primavera abortada» e «Santa Eponina».
 
Exemplar em brochura, sem defeitos significativos.
 
30€

(Auto-«biografia» literária)

Morreu em Dezembro. Em Maio, escrevia isto numa carta.
 
"Meu amigo:
 
...A propósito do seu pedido, devo confessar-lhe que muitas vezes digo a mim mesmo: - que me importa que um homem seja um grande escritor! A primeira coisa seria definir o que é um grande escritor. Pode escrever-se muito mal e ser-se um grande escritor - Dostoiewsky, por exemplo, que passou a vida a lamentar-se de não ter tempo nem dinheiro para escrever como o senhor Tolstoi. E pode escrever-se muito bem sem que isso baste para se ser um grande escritor. Escrever bem é às vezes horrível.
Quanto a mim não só me não considero um grande escritor (...) mas nem sequer me tenho como escritor. Considero-me um homem em luta com um fantasma. Quando é o fantasma que fala e me arrasta, às vezes aturdido, para onde não quero ir - apesar dos meus protestos - escrevo talvez com certo interesse, com dor e grotesco, com piedade pelos humildes; mas quando sou eu que intervenho, não sei fazer uma coisa de jeito. Tenho horror às palavras postas umas ao lado das outras, em préstito e escorrendo um líquido mole e pegajoso. O que eu procuro encontrar nos livros é humanidade e outra coisa viva que se pega para todo o sempre ao papel e à tinta.

Raul Brandão ― Os Pescadores

Livrarias Aillaud e Bertrand, Paris-Lisboa / 1923. In-8º de 326, [2] págs. Enc.

Primeira edição desta magna peça de contraponto solar ao magno lunar Húmus, explosão cromática de um pintor de palavras descendente, ele mesmo, de pescadores da Foz do Douro. A estes Pescadores tencionava Brandão fazer seguir numa imaginada série sobre a vida humilde, um entre milhentos propósitos literários nunca concretizados, Os Lavradores, Os Pastores, Os Operários (ainda chegou a avançar bastante), etc.  
Exemplar revestido de boa encadernação com lombada (profusamente gravada a ouro) e cantos em pele; mas que apenas conserva, má-sorte, a face inferior da capa primitiva.
 
45€

Raul Brandão ― Os Pescadores

Os Pescadores (2.ª Edição)

Livrarias Aillaud e Bertrand, 1924. In-8º de 326 págs. Enc.

Segunda das várias edições saídas no mesmo ano de um dos livros principais do escritor portuense, com capítulos dedicados a vários pontos da nossa costa marítima, de Norte a Sul, e aos hábitos, costumes e tipos das respectivas comunidades de pescadores – de que constitui o mais belo monumento literário conhecido.

Exemplar revestido de uma boa encadernação em material sintético da casa (também portuense) de António de Sousa Oliveira; que porém apenas conserva a face inferior da capa original.
 
17€

Raul Brandão ― Os Pobres

Os Pobres (carta-prefácio de Guerra Junqueiro) / (4.ª edição)

Livrarias Aillaud e Bertrand, 1925. In-8º de 327, [5] págs. Enc.

Quarta edição, terceira de também várias tiragens sucessivas de um livro entretanto já reaproveitado pelo autor para a confusa e genial amálgama de Húmus. No seu longo prefácio, começava Junqueiro por dizer dele ser uma “Autobiografia espiritual, dilacerada e furiosa, demoníaca e santa, blasfemadora e divina”.

Exemplar com encadernação semelhante, mas não guardando esta nenhuma das faces da capa de origem.
 
10€

Raul Brandão ― Teatro

Renascença Portuguesa, 1923. In-8º de 164 págs. Enc.

Primeira edição, reunindo em volume algumas das principais peças do escritor portuense (todas então, salvo erro, ainda inéditas): «O Gebo e a Sombra», «O Rei Imaginário» e «O Doido e a Morte»; com a capa ilustrada por Carlos Carneiro, que compôs dois desenhos diferentes para as duas séries só nisso diversas a que corresponderam.

Exemplar revestido de boa encadernação com lombada e cantos em pele (ligeiramente desgastada em alguns pontos, na frente), conservando por inteiro a dita capa original.

35€

Foi "bom", foi.

"Cá vim encontrar o Raul Brandão morto, com a esposa desolada, a beijá-lo e a afagar-lhe uns restos de cabelos brancos que lhe fugiam do alto da testa mais ampla e cor de cera. Parecia dormir, emagrecido, o nariz mais saliente e fino, a boca desaparecida quase, como o bigode e as sobrancelhas dando-lhe ao rosto o aspecto duma verdadeira máscara de cera ou de marfim: a máscara ascética dum Santo.
Numa salinha contígua, um cunhado, três sobrinhos e duas sobrinhas (uma delas cho...rava constantemente) e o Mário Beirão. Lá fora, a rua deserta, num deserto que abrangia toda a cidade.
Demorei-me, com a Miquelina, até às 8 horas da manhã. Descansámos até à uma hora e voltámos para junto do querido morto que foi o melhor amigo que tive em Portugal e um dos maiores intérpretes da Dor humana.
Às três horas, saiu o enterro, com meia dúzia de pessoas, debaixo duma chuva constante. No cemitério, um cavalheiro de exótica figura, pede a palavra para dizer só três palavras: foi um bom!
E aqui tens o elogio fúnebre do maior escritor de Portugal!"

A 5 de Dezembro de 1930 morria Raul Brandão. O outro grande gigante da prosa portuguesa escrevia no dia seguinte esta carta à irmã Maria da Glória, que a reproduziu em Olhando para Trás Vejo Pascoaes.

Scriptorium (X)

Só escrevo, às horas mortas, quando o grande silêncio nasce do último ruído que se extingue...
O silêncio é o Verbo divino, o sopro de Deus que desperta o nosso espírito -, e beija-nos também na face.