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O livro (impresso) mais caro do mundo

Foi vendido em leilão único, pela Sotheby's, um exemplar do que é agora o livro de transacção conhecida mais cara: The VVhole Booke of Psalmes (a.k.a. Bay Psalm Book), impresso em Cambridge, Massachussets, 1640. O valor - «preço de martelo» de 14 milhões e 165 mil dólares - explicar-se-á só, ou quase, pelo facto de se o crer o primeiro saído dos prelos nos E.U.A. Destrona, assim, Birds of America, peça (bem mais interessante e decerto menos rara) naturalista de J. J. Audubon, também  emblema da bibliografia americana, que detinha o anterior máximo desde 2010. Pode sobre isto ler-se notícias aqui e aqui.

Camões e Camones e «Os Lusiadas», ou a Epopeia Contínua


A história, um tanto à la Rocambole e com reportagem também um tanto crédula (às vezes, incongruente, até), vem contada no Público, aqui, e merece bem a leitura. Pelos vistos, há um exemplar da primeira edição de Os Lusiadas no Centro de Investigação de Humanidades do pólo de Austin da Universidade do Texas que lá dizem ter pertencido ao próprio poeta e por ele sido deixado ao frade que, asseveram mais uma vez, o teria assistido no leito de morte; seguido depois a Espanha, durante o domínio filipino; a um diplomata britânico já no séc.XIX; e, com escala de empréstimo às mãos do Morgado de Mateus (serviu-se dele  para os estudos preparatórios  da celebrada edição, publicada na casa parisiense Firmin Didot, que lhe tomou o nome; este trânsito oitocentista, sim, é  documentado, pois foi de facto um dos espécimes consultados pelo homem nessa altura), vendido finalmente nos anos 1960, sob muita típica manobra, naquelas partes. Só talvez não garantam a pertença a Inês de Castro por não ser nada líquido que existisse imprensa e que já estivesse escrito, por antecipado Camões, quando ela linda e posta em sossego. 
Desta atribulada transacção restará apenas a memória nos arquivos do Centro de que teria custado à volta dos 100 mil dólares, valor que hoje monta a umas seis vezes mais, 600 mil. Havendo todas as razões para desconfiar de quase tudo na história, como as há para os termos e supostos números do negócio, não deixa ainda assim de servir como indicador para o que poderia valer, actualmente, um exemplar do livro, se aparecesse enfim a leilão (sorte de epifania por que se espera há décadas entre alfarrabistas e coleccionadores «lusíadas»). E de servir do mesmo passo os que sustentam, tal o autor destas linhas, parecer manifestamente baixa a estimativa nestes últimos tempos repetida de 300/400 mil euros. Certo, certo, é poder considerar-se, sem grande margem de erro, que valerá qualquer coisa mais do que os 5€ da edição fac-similada acabada de lançar pelo mesmo Público. 

Guilherme de Castilho ― António Nobre

Editora Arcádia, a Obra e o Homem. [S/d – >1961]. In-8º de 311, [3] págs. Br.
 
Décimo quarto título da colecção «a Obra e o Homem», o trabalho de Castilho é acompanhado por antologia poética, reproduções de engraçadas fotografias da época (retratos de Nobre em circunstâncias várias, mas não só) que ilustram o volume no figurino típico e, a terminar, transcrição de algumas cartas e extensa relação de bibliografia.
 
Exemplar ainda em relativamente boa condição geral, mas com  ténues marcas na capa e de amarelecimento sobre as margens das folhas (além do apontamento a tinta, à cabeça da última página, "Pensão de Madame Laïlle, Rue des Ecoles 41" - morada de Anto em Paris, anotada decerto para visita).

  10€

António Nobre ― Só

Livraria Tavares Martins, Porto / 1976. In-8º gr. de 219, [5] págs. Br.

Foi a décima-sétima edição do livro, graficamente apurada, como todas nesta editora (que as publicou a partir da nona), composta pela Imprensa Portuguesa tendo impressão sobre bom papel e reproduzindo em folhas extra-texto de menor formato algumas das provas tipográficas com as correcções manuscritas pelo autor; também, na capa (lombada e face inferior), se reproduz excertos do manuscrito original, de 1886.

Exemplar bem tratado, a apresentar só leves marcas superficiais na capa e ligeiríssimos vestígios de manuseio no miolo. 

15€

Bibliographica (I) : «Assinatura de posse» vs. «Assinatura de propriedade»


uma dita cuja nada discreta,
sobre o rosto de um
exemplar da primeira edição de «Conversar», de
Augusto de Castro
 

Parecerá isto talvez só um preciosismo jurídico, mas a expressão «assinatura de posse», tão usada no nosso meio desde há muito pela grande maioria dos bibliógrafos e livreiros antiquários, não é rigorosa. Descontando ofertas e dedicatórias - por autores, editores, tradutores e todo o tipo de ofertantes particulares -, quem assina (mau hábito...) um livro é o dono como tal, não enquanto «possuidor»,  categorias que nem sempre coincidem, aliás. Situações há, mesmo se invulgares, de possuidor autónomo: por exemplo, aquele que encontra um livro na rua e o toma desde logo à sua guarda, ou que compra num alfarrabista algum antes roubado, só se lhe tornando propriedade após um período mínimo de tempo (seis ou três anos, consoante a hipótese em causa - art. 1299º do Código Civil)  sem reclamação do anterior proprietário. Assim já não sequer aquele, mero detentor, a quem o proprietário o empresta (hábito outro nem sempre famoso). «Assinatura de propriedade» é então a que, estando mal, está bem.   
 
(«Propriedade», «posse» e «mera detenção» são as três figuras da dogmática de direito civil - real - aqui chamadas. A primeira é a única a que correspondem genuínos direitos. As outras duas, com rigor, nem passam de uma circunstância de facto, embora de hierarquia diversa, já que a mera detenção, também dita «posse precária», é, ao contrário da efectiva, por definição, transitória e subordinada.
Para expor de modo mais grosseiro a diferença, esquecendo o plano normativo, será porventura a sexual a melhor imagem, em que a «posse», obviamente, não configura «propriedade». (Há de resto muito em comum com a volúpia e o gozo livrescos. Esses, porém, seriam já outros quinhentos)).

Equipa – Selecções Desportivas

(No. 1 a no. 6, 1975). 6 vols. in-8º enc. em 2.


Foram os seis primeiros números da publicação (a que não encontro referência nesta série, desconhecendo por isso de quantos se compôs no total e até quando foi editada, e supondo-a invulgar por hoje), inteiramente dedicada ao desporto: não só o futebol, ainda que tivesse a maior fatia, e toda uma gama de modalidades que ia ao ténis de mesa, ao golfe e ao xadrez, por exemplo. Mesmo no futebol, alguma destas peças mais datadas poderá conservar interesse, entre biografias de jogadores e histórias de clubes, reportagens e artigos técnicos.

Os números estão encadernados em dois tomos de três (1 a 3 e 4 a 6), sendo a boa encadernação, em tipo semi-amador, gravada nas lombadas a dourado.

25€, preço conjunto 

Estanhos Portugueses

(Companhia Editora do Minho, Barcelos. Janeiro de 1985). In-4º gr. de 303, [5] págs. Enc.

Álbum impresso sobre papel couché, em volume de grande formato encadernado com sobrecapa de papel ilustrada. Após a introdução, o estudo  de Rolando van Zeller contém os capítulos «Dos Regimentos da Corporação», «Ligas de Estanho», «Doença do Estanho», «Objectos de Uso Caseiro», «Objectos de Uso Médico e de Enfermagem», «Objectos de Uso Litúrgico», «Falsificações», «Alguns nomes de vasilhas e objectos e seu significado», «Alguns Picheleiros» e «Resumo em Inglês».
 
Exemplar por estrear, conservado em muito bom estado, sem defeitos significativos.

35€

O Livro na Arte (III)


(Composto em 1893 pela finlandesa Anna Sahlstén, artista da era tida como dourada na pintura do seu país - assim a nórdica, em geral; e a europeia, mais em geral ainda -, penúltimo entresséculo, o trabalho é notável não só pela delicadeza da pose e do traço mas sobretudo pelo efeito da luz: trazer a um simples quadro, mais a mais, de interior, a luz  mesma escandinava. Da expressão da retratada só não se entende se em plena rêverie, por o livro ser tão bom, ou se divaga e olha através a janela insinuada para qualquer coisa que pouco mais interesse, por tão mau. Nem importa grandemente...) 

Ana Plácido - Luz Coada por Ferros

Luz Coada por Ferros -- escriptos originaes por D. Anna Augusta Placido
 
Lisboa: Livraria de A. M. Pereira – 1863. (Aliás, Lello & Irmão, 1995). In-8º de XV, [I], 210, [2] págs. Enc.
 
“Esta edição fac-similada, de 1000 exemplares numerados, foi lançada em Dezembro de 1995 numa coedição de Lello & Irmão – Editores e da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, no âmbito das comemorações do 1.º Centenário da morte de D. Ana Augusta Plácido (1895-1995)”. Salvo erro, deverá tratar-se da terceira edição do livro (publicado segunda vez pela editora lisboeta na sua «Collecção Antonio Maria Pereira» ao início do século passado, e depois, se bem suponho, deixado ao olvido), colectânea de textos compostos pela amante de Camilo Castelo Branco maxime na Cadeia da Relação, no Porto, enquanto ele, também lá preso  por acusado  no comum crime de adultério *,  escrevia, entre outros, Amor de Perdição; o tom, aliás, é todo – sobretudo no primeiro, a novela «Adelina» – muito camiliano, personagens, enredo e geografia sentimental portuense, ainda que lhes falte, já se imaginaria, um certo golpe de asa do génio do nosso maior romancista. Ficou o prefácio  por conta do  escritor alfacinha, e amigo de ambos, Júlio César Machado.

(* Após andar  erradio a monte  entre terras minhotas e transmontanas, acabou, desfeitas as hesitações, por achar que lhe seria mais nobre entregar-se  - pose romântica e pundonor amoroso que hoje, século e meio depois, pareceriam altamente improváveis; a que talvez acrescesse a ideia, certa e bem solidária, de ser mais fácil a defesa de Ana se com ele metido ao barulho, o que, entre outras coisas, parece ter confirmado a visita feita pelo próprio rei D. Pedro V à prisão - também à polícia, comungando da sorte da mulher de Pinheiro Alves, que lhes movera o processo e subsequentes cordelinhos, ao que consta, mais por insistências alheias do que genuína vontade individual. Em julgamento de grande azáfama, acabariam os dois absolvidos pelo juiz Teixeira de Queirós - o pai de Eça - cerca de um ano passado)  
 
Julgo que todos os exemplares terão, como este (n.º271, em condição quase perfeita, decerto por estrear), sido encadernados, sobriamente, em tela.

15€ 

Ana Plácido - Herança de Lágrimas

Herança de Lagrimas: Romance Original por Lopo de Souza (...)

Guimarães: Redacção do Vimaranense –– Editora / Typ. do Vimaranense –– 1871. (Aliás, Lello & Irmão, 1995). In-8º de 287, [1] págs. Enc.

A mesma edição (os dois livros saíram em conjunto) e o mesmo n.º de exemplar, 271, sensivelmente nas mesmas condições. 

15€

Scriptorium (III)


As sílabas de cedro, de papel,
A espuma vegetal, o selo de água,
Caindo-me nas mãos desde o início.
 
O abat-jour, o seu luar fiel,
Insinuando sem amor nem mágoa
A noite que cercou o meu ofício.
 
(Soneto Fiel, in Sobre o Lado Esquerdo, 1968)


Carlos de Oliveira

Imagenes y Mensajes: escultura romana del museu de Évora

Instituto Português de Museus / Museu de Évora, 2005. In-4º gr. de 111, [1] págs. Br.

Boa edição em papel couché, publicada por ocasião da exposição homónima organizada pelo museu eborense no Museo Nacional de Arte Romano de Merida (capital da Lusitânia romana), em Espanha; ilustrada ao longo do volume por finas reproduções de peças, desenhos, fotografias, mapas e plantas.

Artigos de Jorge de Alarcão («Las Civitates de Lusitania»), Maria Conceição Lopes («La Civitas de Pax Iulia»), Theodor Hauschild («El Templo Romano de Ebora»), Panagiotis Sarantopoulos («Los Caminos de Ebora Liberalitas Iulia»), Nogales Basarrate e Luís Jorge Gonçalves («Imágenes y Mensajes: Las Esculturas del Museo de Évora como Testimonio de Romanización»), José Carlos Caetano («La sociedad de Liberalitas Iulia Ebora a través de la epigrafía») e Joaquim Oliveira Caetano («Los Restos de la Humanidad: Cenáculo y la Arqueologia», sobre a actividade colectora e investigadora deste conhecido franciscano setecentista, confessor de D. José, que viria a ser Arcebispo da arqui-diocese alentejana). Além deles, o volume integra ainda textos explicativos, fichas de inventário, etc.   

Exemplar novo, em óptimo estado.

15€

Fátima, Altar do Mundo

Porto: Ocidental Editora, 1953 (a 1955). 40 fascículos in-4º gr. Br.
 
Edição original, de grande primor gráfico, impressa em bom papel do Prado pela Companhia Editora do Minho e (offset) pela Litografia Nacional, sob as direcções de João Ameal (literária) e Reis-Santos (artística), com desenhos de Manuel Lapa e gravuras de Marques Abreu. Será talvez, ainda hoje, considerado o mais importante trabalho de conjunto dedicado ao tema, contando na primeira parte com os estudos «O culto de Nossa Senhora em Portugal», «As aparições de Fátima em 1917» e «A Consagração pela Igreja do Culto de Nossa Senhora de Fátima (principais documentos episcopais e pontifícios)»; na segunda com «As grandes Jornadas de Fátima (1918-1944)», «A Coroação de Nossa Senhora e o agradecimento pela Paz (1945)» e «O encerramento do Ano Santo em 1951»; e, na terceira, «A Imagem Peregrina» e «Inquérito sobre Fátima dirigido às figuras representativas da Igreja e aos maiores Pensadores Católicos de todo o Mundo»; terminando pelo epílogo «Padroeira de Portugal, Padroeira do Ocidente».
 
50€

Arqueologia Literária (I) - Uma carta de Oliveira Martins


(Carta enviada pelo publicista a Albertina Paraíso, que lhe pedia colaboração - a ele, como a toda a fina flor da nossa literatura segundo-oitocentista, cuja anuência mais ou menos prestável terá tornado este volume dos mais bem concorridos no género por cá publicados - para o seu Almanach das Senhoras Portuguezas e Brazileiras para 1888 por Albertina Paraizo/(3.º anno). [Nas duas edições anteriores chamava-se Almanach das Senhoras Portuenses].  
O exemplar que tenho em mãos pertence à rara tiragem especial de 25  impressos  sobre  papel  de linho,  numerados e presumivelmente em maior formato, destinados a "bibliophilos e camonianistas". A capa, decerto comum com a tiragem corrente, é, veja-se pela fotografia, castiça q.b.
Já se sabe da devoção à estância de Eça, que lá fez a côrte a Emília Resende, e de Ramalho, que lhe erguera panegírico n'«As Praias de Portugal», por exemplo. Fica-se a saber - quem  ainda  não  soubesse, assim o autor destas linhas - da dest'outro Vencido da Vida, que no Porto morou muito tempo, e talvez até então morasse.)
 
 
             Ex.ma Senhora
 
     No remanso desta praia, onde vim buscar algumas raras horas de socego, recebo a carta de V. Ex.ª.
     Entre as tyrannias mais crueis, que affligem a raça dos escriptores, estão, permitta-me V. Ex.ª a franqueza, os albuns e os almanachs.
     Que quer V. Ex.ª que lhe diga para o seu? Deseja algum parecer sobre o intrincado problema dos tabacos? Ou variações lyricas ácerca das ondas do mar? Ou finalmente opiniões sábias com respeito á eficácia dos banhos?
     São os motivos mais de occasião; mas infelizmente não tenho que dizer, a respeito de nenhum delles. Dos tabacos fujo com medo dos espirros, das ondas com medo do rheumatismo. Só me agrada agora o socego e o silencio.
     E' tudo o que lhe posso mandar para o seu almanach, isto é, cousa nenhuma, além dos meus mais respeitosos e sinceros cumprimentos.

     Granja, 16 de Setembro
                                                                                       J. P. Oliveira Martins

Egito Gonçalves - luz vegetal

limiar (Porto, 1975). In-8º de 85, [11] págs. Br.

Primeira edição de um dos primeiros (o terceiro, após Poemas a Guevara, organizado pelo próprio Egito Gonçalves, e Ciclo do Cavalo, de Ramos Rosa) títulos da colecção «Os Olhos e a Memória»; com arranjo gráfico de Armando Alves, tendo na capa, à frente, reproduzido um quadro de Labisse, e atrás um retrato do autor por Barbara Köppe em Berlim.

O exemplar foi valorizado pela dedicatória de oferta que Egito lhe apôs sobre a folha de anterrosto: “Ao Mário, a saudação amiga”, parecendo, por uma pequena marca de esboroamento, ter sido apagado um nome – decerto, comum – que, a ser o caso, se seguiria.

18€