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Camões e Camones e «Os Lusiadas», ou a Epopeia Contínua


A história, um tanto à la Rocambole e com reportagem também um tanto crédula (às vezes, incongruente, até), vem contada no Público, aqui, e merece bem a leitura. Pelos vistos, há um exemplar da primeira edição de Os Lusiadas no Centro de Investigação de Humanidades do pólo de Austin da Universidade do Texas que lá dizem ter pertencido ao próprio poeta e por ele sido deixado ao frade que, asseveram mais uma vez, o teria assistido no leito de morte; seguido depois a Espanha, durante o domínio filipino; a um diplomata britânico já no séc.XIX; e, com escala de empréstimo às mãos do Morgado de Mateus (serviu-se dele  para os estudos preparatórios  da celebrada edição, publicada na casa parisiense Firmin Didot, que lhe tomou o nome; este trânsito oitocentista, sim, é  documentado, pois foi de facto um dos espécimes consultados pelo homem nessa altura), vendido finalmente nos anos 1960, sob muita típica manobra, naquelas partes. Só talvez não garantam a pertença a Inês de Castro por não ser nada líquido que existisse imprensa e que já estivesse escrito, por antecipado Camões, quando ela linda e posta em sossego. 
Desta atribulada transacção restará apenas a memória nos arquivos do Centro de que teria custado à volta dos 100 mil dólares, valor que hoje monta a umas seis vezes mais, 600 mil. Havendo todas as razões para desconfiar de quase tudo na história, como as há para os termos e supostos números do negócio, não deixa ainda assim de servir como indicador para o que poderia valer, actualmente, um exemplar do livro, se aparecesse enfim a leilão (sorte de epifania por que se espera há décadas entre alfarrabistas e coleccionadores «lusíadas»). E de servir do mesmo passo os que sustentam, tal o autor destas linhas, parecer manifestamente baixa a estimativa nestes últimos tempos repetida de 300/400 mil euros. Certo, certo, é poder considerar-se, sem grande margem de erro, que valerá qualquer coisa mais do que os 5€ da edição fac-similada acabada de lançar pelo mesmo Público.