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“Por fim, encontrara o inimigo – o heroísmo hipócrita que envia os outros para a morte e para o sofrimento, o optimismo barato dos palradores políticos ou militares, que com o espantalho da vitória prolongam a catástrofe, aplaudidos pelo coro dos vendilhões que Werfel muito justamente, nas suas belas estrofes, apodou de Wortemacher des Krieges. Eram esses indignos vendilhões que logo acoimavam de pessimista quem tivesse a coragem de perturbar a sua digestão patrioteira, e acusavam de ignominiosa traição o estigmatizar a guerra, à qual de resto nunca iam.”

(Stefan Zweig, O Mundo de Ontem: Memórias de um Europeu

Silva Tavares ― Trincheiras de Portugal

Lisboa, Domingos & Franco – Editores / Livraria Lisbonense. MCMXIX. In-8º de 82, [4] págs. Br. 

Livro escrito para cantar “os rasgos do nosso Povo e, nomeadamente, a sua expressão de alto sacrifício e heroicidade, na grande guerra, que assolou o mundo”, do escritor que mais tarde muito se celebraria pelas canções compostas para Amália e para Alfredo Marceneiro, entre outros. Primeira das várias edições, esmerada e de extraordinário apuro gráfico, impressa a duas cores sobre bom papel de linho; com tiragem limitada a 1000 exemplares, todos numerados e assinados pelo autor (se não se tratou, como julgo que não, de uma série especial por declarar).
 
Exemplar em muitíssimo bom estado, quase impecável.
 
23€
"A loucura tomava proporções cada vez mais assustadoras. Aqui era uma cozinheira, atarefada à volta do fogão, e que, apesar de nunca haver saído da sua terra e desde os tempos da escola nunca mais ter pegado numa geografia, acreditava que a Áustria não podia existir sem Sandschak - pequena região perdida em qualquer parte da fronteira da Bósnia. Mais além, apareciam cocheiros disputando acaloradamente em plena rua acerca da indemnização que se deveria impor à França,  Uns optavam por cinquenta biliões; outros exigiam cem; mas nenhum tinha uma ideia bastante clara acerca do que fosse realmente um bilião. Não havia excepções porque o histerismo do ódio penetrara em toda a parte. Chegara ao altar e até os próprios socialistas, que um mês antes declaravam o militarismo a maior de todas as monstruosidades, vozeavam mais que os outros para não se verem classificados de «homens sem Pátria»"

(Stefan Zweig, O Mundo de Ontem: Memórias de um Europeu)

Aires de Ornelas ― O Ultramar Portuguez

O Ultramar Portuguez (O que foi e o que é perante o conflicto actual)

Porto: Companhia Portugueza Editora. 1918. In-4º de 117, [3] págs. Br.

Primeira edição, invulgar. Integra uma extensa nota introdutória (em que defendia o autor ser o ultramar a “razão de ser da nossa existencia como nação independente e razão de ser da nossa historica alliança” e, do mesmo passo, a própria justificação da entrada portuguesa no conflito mundial) e os capítulos «A Expansão», «Alcacer Kibir e a perda do poder naval», «A Restauração e o Brazil» e «A Africa e o problema actual».

Exemplar em muito bom estado no miolo – descontando pontuais e ligeiras marcas de acidez – mas prejudicado pelos rasgões (com uma significativa falha de papel à frente) na capa. A encadernação será, mais tarde ou mais cedo, aconselhável.

16€
"Analisando com serenidade quais as razões que lançaram a Europa de 1914 na voragem da guerra, verifica-se que não havia nenhuma suficientemente forte. Não existiam ideias em luta e quase nem sequer havia problemas de fronteiras a solucionar. Não encontro outra justificação para esse drama senão a de ter sido a própria força acumulada por aquele extraordinário dinamismo de quarenta anos de paz que teve necessidade de uma válvula de escape. De repente, um determinado país começou a observar que era forte, mas esquecia-se de que os outros também faziam semelhantes reflexões. E esboçou-se uma geral vontade de expansão, à custa dos vizinhos, naturalmente. O mais lamentável é que aquilo que constituía o nosso maior título de glória, o sentimento da nossa solidariedade colectiva, foi precisamente o que mais nos traiu." 

(Stefan Zweig, O Mundo de Ontem: Memórias de um Europeu)

Guerra Junqueiro ― O Monstro Alemão (Atila e Joana d'Arc)

Porto, Edição da Junta Patriótica do Norte, 1918. In-8º de 20, [2] págs. Br.

Opúsculo publicado pela instituição sediada no Porto a assinalar o fim da 1ª Guerra Mundial – e cujo produto de venda se destinou precisamente, como de costume, à assistência aos órfãos de guerra. A pedido da Junta, Junqueiro enviou, desde Barca d’Alva, este seu artigo inédito escrito no ano anterior.
O texto, ao habitual estilo dele – verboso, proclamatório –, é um violento libelo contra a Alemanha de Bismarck (e, de caminho, contra Hegel, contra Nietzsche…) e o ideal de pan-germanismo que desembocou na Grande Guerra. Atacando uma certa psicologia alemã, contrapõe-lhe a cultura francesa que defende e a que dedica o ensaio: a “França heroica e redemptora”, a “mãe sublime de Joana d’Arc”, o “coração do mundo”, etc. 
 
10€ 

João Grave ― Os Sacrificados (Contos da Guerra)

Livraria Chardron, de Lélo & Irmão, editores. R. das Carmelitas, 144. Porto. [S/d – 1917?]. In-8º peq. de [4], 197, [5] págs. Enc.

Saída dos prelos da Imprensa Moderna para integrar a conhecida «Colecção Lusitânia», da Lello, foi esta a primeira edição do livro, escrito (ou, pelo menos, acabado) em Miramar, praia que não terá contribuído assim tantas vezes para a literatura portuguesa: ao contrário, nesse tempo, da experimentadíssima Leça e até da quase já vizinha Espinho. Engloba os contos «Um sonho de epopeia», «Um drama na noite», «A maior dôr», «O amputado», «A morte da catedral», «Do terror ao heroísmo», «O cego», «Carta de longe», «Um drama da invasão», «A cidade assassinada», «Conciliados na morte», «Ressurreição duma alma», «Revelação», «O perdão», «A igualdade na dôr», «A carga de baioneta» e «O diálogo das estátuas».
 
Exemplar bem conservado, mas com leves marcas sobre a frente da capa – como quase sempre nesta série, a sobrecapa perdeu-se.
 
7€

O desenlace previsto da actual Conflagração Europeia

O desenlace previsto da actual Conflagração Europeia: Resposta ao ilustre publicista Bazilio Teles por Mello Freitas (Antigo colaborador de A Voz Publica)

Aveiro: Of. tip. do «Campeão das Provincias». 1916. In-8º peq. de 37, [3] págs. Br.

Mais do que uma resposta aos célebres opúsculos de Basílio Teles sobre o conflito, é este um alardear de citações e informações que, apesar de um tanto gratuito, não deixa de apresentar alguns dados estatísticos com interesse (sobre as nações beligerantes e os seus contingentes); pronunciando-se declaradamente pela vitória da Entente, e criticando as dúvidas que dizia ver no texto do portuense.
Exemplar em bom estado, destacando-se só pequenos vincos e marcas na capa.

10€ 
“Certo dia, ouvi bater à porta da minha casa. Fui abrir e eis que se me deparou um soldado muito pouco marcial. Mas o meu espanto foi enorme quando notei que tinha Rilke na minha frente. Era verdade – Rainer Maria Rilke envergara o uniforme militar !  Adivinhava-se imediatamente que se sentia bem pouco à vontade dentro dele. Parecia que o colarinho lhe apertava o pescoço e estarrecia ante a perspectiva de ter de fazer soar os tacões das botas quando forçado a perfilar-se em frente de qualquer superior. O seu velho desejo de fazer tudo com esmero também então se manifestava, levando-o a cumprir impecavelmente todas as ninharias do regulamento militar. Mas esse desejo infundia-lhe uma constante inquietação. / «Não imagina como desde cadete detesto o uniforme militar. Julgava nunca mais o vestir e eis que, agora, aos quarenta anos, sou obrigado a fazê-lo!». O seu infortúnio durou, porém, pouco tempo, felizmente, pois houve quem o protegesse. Submetido a uma benevolente inspecção médica, foi a breve trecho dispensado”. 

(Stefan Zweig, O Mundo de Ontem: Memórias de um Europeu) 

Scapa Flow, Túmulo da Esquadra Alemã

Scapa Flow, Túmulo da Esquadra Alemã (Traduzido e prefaciado pelo 1.º Tenente de Marinha Américo Cabral)

Depositários: J. Rodrigues & C.ª – Lisboa. (Composto e impresso no Centro Tip. Colonial. 1935). In-8º de XV, [I], 183, [5] págs. Br.

No seu extenso prefácio, que soa a tendencioso (pró-alemão), Américo Cabral resume a história que levou à ordem de afundamento da frota teutónica na baía de Scapa Flow, para que não fosse entregue sem luta ao inimigo. Ordem essa dada precisamente pelo autor, von Reuter, o comandante da esquadra.

Exemplar ainda bastante razoável, posto que prejudicado por ligeiras marcas e pequenos defeitos exteriores.
 
10€

Ernest Johannsen ― Quatro de Infantaria

Quatro de Infantaria: Frente Ocidental - 1918 (Tradução de Nogueira de Brito)

Livraria Renascença / Joaquim Cardoso, Editor – Lisboa. (1930). In-8º de 208, [6], X págs. Br.

Esta versão portuguesa do romance, que teve êxito apreciável, é acompanhada, no final do volume, por um sempre útil catálogo de publicações da época da Livraria Renascença (Ferreira de Castro, Manuel Ribeiro, Blasco Ibañez, etc.).

Belo exemplar, bem conservado e sem qualquer defeito significativo.


10€
“Vivia-se bem, facilmente e sem preocupações nessa Viena de então. Os germanos do norte olhavam para nós, seus vizinhos das margens do Danúbio, mal-humorados e um pouco desdenhosamente. Consideravam que não éramos suficientemente «inteligentes» e que em vez de mantermos rigorosa ordem na nossa maneira de ver, nos permitíamos uma vida de prazer: comíamos bem, divertíamo-nos melhor em festas e teatros e, além disso, tocávamos excelente música. Em vez da «inteligência» alemã, que afinal só tem perturbado e amargurado a existência dos outros povos, em vez da alucinante tendência alemã para suplantar todos os outros e para avançar continuamente, preferíamos nós a conversa agradável e amena e um tanto afável, deixando que, num espírito de bondosa tolerância que talvez tivesse um pouco de negligência, cada qual vivesse à sua maneira (...) Ricos e pobres, checos e alemães, judeus e cristãos todos viviam em paz, apesar de algumas e eventuais divergências. Na Áustria, até os próprios movimentos políticos e sociais estavam isentos daquele ódio brutal que só mais tarde, como resíduo venenoso da primeira grande guerra, haveria de penetrar nos hábitos e nos costumes da época”
 
(Stefan Zweig, O Mundo de Ontem: Memórias de um Europeu)