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Em Espanha, logo nesse dia seguinte o escritor português - já então a viver em Lanzarote, após a polémica com O Evangelho Segundo Jesus Cristo e o governo português de Cavaco e do secretário de Estado Sousa Lara a tomar-se das dores da ortodoxia católica - faz capa em grande parte da imprensa de referência, que apresenta quantidade considerável de peças assinadas por outros escritores, espanhóis, como Manuel Rivas, Enrique Vila-Matas, Arturo Perez-Reverte, Manuel Vasquez Montalban, etc. Aqui fica o início da de Juan Manuel de Prada no «ABC»:
"O prémio Nobel não conta entre as suas virtudes com a da infalibilidade; talvez por isso, quando acerta, a reacção de quem acolhe os seus ditames com cepticismo, junta a perplexidade ao alvoroço. Ao premiar José Saramago, a assembleia dos académicos suecos não se limita a reparar uma obscena e demasiado repetida injustiça; dirigiu também o seu veredicto para a literatura em estado puro, sem condimentos políticos, folclóricos ou sociológicos, essas rémoras que nos últimos anos têm enturvado o elenco dos ganhadores, com nomes tão discutíveis ou estranhos como Morrison ou Fo.
Foi premiado um homem na plenitude dos seus recursos, entregue a uma obra que em cada título incorpora novos motivos de deslumbramento. Em 1985, quando foi publicado «O Ano da Morte de Ricardo Reis», Saramago era para nós um escritor quase secreto, mas desde aí a sua envergadura literária e moral continuou a crescer, com um vigor impetuoso, dono de uma coerência interna que distingue os mestres."
Foi premiado um homem na plenitude dos seus recursos, entregue a uma obra que em cada título incorpora novos motivos de deslumbramento. Em 1985, quando foi publicado «O Ano da Morte de Ricardo Reis», Saramago era para nós um escritor quase secreto, mas desde aí a sua envergadura literária e moral continuou a crescer, com um vigor impetuoso, dono de uma coerência interna que distingue os mestres."