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8 de Outubro de 1998

Faz hoje vinte anos que uma sua futura leitora muito ilustre celebrava o 16º aniversário e José Saramago era como nós todos informado de que a Academia Sueca lhe atribuíra o Nobel da Literatura. Foi a primeira - e, até hoje, única - vez que um escritor de língua portuguesa saiu premiado com o título. Pascoaes, Ferreira de Castro, Aquilino e Torga, portugueses, Guimarães Rosa e Jorge Amado, brasileiros, tinham sido entre muitos outros aventados em vão. Lobo Antunes auto-aventa-se todos os anos dizendo que não quer, mas não parece que venha a ter melhor sorte, coitado. O autor de «Todos os Nomes», publicado precisamente antes do prémio, foi o único nome a merecer a honra.

Podemos desdenhar dos prémios literários em geral e do Nobel em particular, podemos distanciar-nos de algumas posições políticas de Saramago (e desde logo do seu credo comunista), podemos achar pouca graça a uma certa rigidez da personagem, podemos tudo. Mas repare-se num homem que é criado por avós camponeses ribatejanos analfabetos e por pais ainda iletrados, faz a sua aprendizagem com dificuldades económicas nas escolas públicas e as suas leituras nas bibliotecas públicas, descobre a literatura, torna-se tradutor e editor, primeiro, depois jornalista e escritor, escreve romance após romance após romance e ganha assim, vindo do nada, feito do nada, pela primeira vez o Nobel. É razão suficiente para lhe dedicarmos este mês de Outubro, em exclusivo.

 
[Na imagem: «O dia em que Saramago ganhou o Nobel», ilustração de Gonçalo Viana]