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«Estado de Emergência»

O problema de alguns cidadãos com os estados de emergência é antigo. Tão antigo que já vem da Roma Antiga onde bem vistas as coisas começaram.
Durante a República, entendeu-se até bastante tarde - ainda na guerra púnica com Aníbal aconteceu várias vezes, especialmente quando este, saído daqui da Península Ibérica, atravessou Pirenéus e Alpes gelados a pé com elefantes e um exército dos que sobreviveram ao frio, chegou à metrópole indefesa pelas legiões afastadas noutras frentes e por um acaso até hoje inexplicável não a desfez, preferindo passar-lhe ao largo: "Hannibal ad portas!" - que seria proveitoso suspender a normal vigência das leis e o habitual funcionamento das instituições durante fases de crise, excepção, emergência; conferindo poderes alargadíssimos e quase ilimitados aos dois cônsules que então estivessem em funções e/ou ao dictator que nomeassem. Cunhou-se aí o conceito de «ditadura» como hoje o conhecemos, tal como até certo ponto, pelo menos em sentido institucional, também o de «República» poderemos reconduzir aos romanos (apesar de Cartago funcionar igualmente enquanto república, já para não falar em algumas das anteriores cidades-Estado gregas; os celtas, num paraíso perdido propriamente colectivista, estavam muito à frente). Mais tarde, primeiro Sula e depois sobretudo Júlio César tentaria normalizar esse estado de excepção para se ir alongando no poder, por isso acabando assassinado assim nuns "Idos de Março" mas em vão: depois do segundo triunvirato, e após a terceira guerra civil em menos de um século (com Marco António), Octávio imporia o imperium como regime, super-ditadura que duraria, mais ou menos dinasticamente, quatro séculos e pico, não sendo este "pico" nenhum trocadilho.
Digamos portanto que isso dos estados de emergência, e das ditaduras, e pior ainda o facto de serem aceites em República, foi uma mais de tantas coisas más que os romanos nos deixaram, desde a autoridade à burocracia administrativo/fiscal, desde a escravatura enquanto base da economia até ao pão e circo para alienar a plebe.
 
[Na imagem: a capa de Astérix e os Louros de César, desenhada por Albert Uderzo]