Sobre este, embora menos do que em quase todos os outros quadros de Bosch, difícil dizer, ensaiar, o que quer que seja: haverá poucos pintores em toda a História da Arte tão desafiadores de qualquer interpretação digna do nome (ainda assim, ou por isso mesmo, ninguém deverá ter sido tão estudado pela psicanálise), a tal ponto delirante é nele o símbolo. De referir apenas que o motivo do livro na cabeça, significasse o que fosse, aparece várias vezes no trabalho do holandês (v.g. o principal Jardim das Delícias), só que aqui de efeito mais perturbador, e talvez, pelo contexto, também de compreensão mais arriscável: superstição, estupidez, crendice.
É o dito contexto a «operação» fundamental - A Extracção da Pedra da Loucura - do quadro. Defende-se que constituísse uma forma de trepanação algo habitual na Idade Média, assentando na suposição, tão evidentemente científica, de que a loucura do indivíduo se consubstanciaria numa pequena pedra estacionada ao alto da cabeça. A ser assim, melhor nem imaginar quantos «loucos» hão-de ter sido «cirurgicamente» salvos pela morte, essa universal «salvadora». Entre isto e os modernos hospitais psiquiátricos, bem capaz de ser preferível a segunda hipótese, apesar de tudo...