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Águias Passadas, ou a escrita automática em feição digital

Vinha no Público de hoje/ontem, em legenda a uma fotografia do último jogo do Benfica, uma maravilhosa frase, que aparenta aquela muito típica confusão informática e foi capaz de, sozinha, sobressaltar a quotidiana pacatez do jornal. Citando: Em delit am, conullum zzril illa aut alis nit adigna corting eriustrud Ure vel ulla. É algo que não apetece, Ambrósio, a quem escreve agora estas linhas, mas dá vontade de pensar em embrenho decifrador, porque a sentença, com vírgula e tudo (note-se o cuidado sintáctico), soa quase a oração votiva pagã e provoca de facto um espanto hipnótico semelhante ao efeito da escrita automática. Terá sido o mote do clube, única coisa nele  tão pouco portuguesa (refere-se o afã colectivo, não a língua morta), Et Pluribus Unum, a inspirar aquela primeira parte da frase, sorte de latim entrecortado por um estranho "zzril" [espirro?], até "adigna" ? E a saudade dos golos de Mats Magnusson, dos livres de Stefan Schwarz e do pulmão de Jonas Thern, já para não invocar o deus dinamarquês Manique (não o pouco divino Pina), a casá-la, de modo flagrantemente contra-natura, com a final, nórdica? (Outro sim aqui a alusão romana, os visigodos tomando conta do exército imperial no estertor do Baixo-Império, etc.)
 
Se fosse - disso o livrem todos os deuses, romanos e nórdicos e os mais que haja - benfiquista o autor deste pedaço de prosa, não desdenharia tomar por lema a frase, mesmo abreviada, e deixar lá o et pluribus unum. Em qualquer dos casos, fica à consideração, para memória futura. Não mereça  como a passada glória de ambas as icónicas águias, queira dizer o que queira, sempiterna fama.