Se no domingo Lautréamont fez 175 anos, hoje Baudelaire fez 200 - e já começaram as comemorações numa França assolada pela pandemia. Pela nossa parte, está bom de ver que o boletim de Abril vai ser ainda mais francófilo do que já é costume: além destes dois senhores, que estarão em força, aproveitaremos para convocar alguns franco-fantasmas afins; precursores (de Sade a Hugo e demais companhia romântica), sucessores (de Jarry a Breton e demais companhia surrealista) e contemporâneos mais ou menos simbolistas/decadentes.
Entretanto, fiquem estas programáticas palavras do que foi a vida do poeta francês inventor da modernidade, escritas pelo próprio e traduzidas por José Saramago:
"Deve-se estar sempre embriagado. Nada mais conta. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que esmaga os vossos ombros e vos faz pender para a terra, deveis embriagar-vos sem tréguas.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embriagai-vos.
E se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na erva verde de uma vala, na solidão baça do vosso quarto, acordais, já diminuída ou desaparecida a embriaguez, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, a ave, o relógio, vos responderão: "São horas de vos embriagardes! Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha."