
Um habitual leitor, porém, talvez prefira achar que sim e descortine logo a sugestão de pequenez do ser que lê face à leitura em que o ego parece adormecer. Ou, já agora, a ideia da própria leitura enquanto embalo, tão cara a um escritor como Quignard. Paradoxo: a leitura, linguagem, ecoa naquele que lê apelo semelhante ao da vaga música que de longe, de fora, chega ao feto intra-uterino, infante (infans: o que não tem fala, i.e. linguagem) em formação. É dizer, aquele que lê, linguagem, responde sobretudo, notando-o ou não, ao fundo indistinto em que ela se forma. (Também ela, assim tudo, fantasma). Paradoxo eventual: aquele que escreve é em simultâneo o que embala e o que é embalado.
* [Don Diego de Acedo, el primo, era um anão. E o volume que segura, um volumoso in-folio. O quadro, óleo de finais de 1630, integra o acervo do Prado]