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O Livro na Arte (VI)

Não é de crer, se não há indicação do pintor em contrário, que Velázquez pretendesse algo mais do que isto: a aparente* desproporção de formas entre homem e livro, cujo efeito grotesco nos parecerá hoje  (mais de um século de modernismo e de figuração «deformadora», tendo esta até por cá  exemplo conhecido, Paula Rego)  relativamente banal, mas que não seria, à época, nada despiciendo.
 
Um habitual leitor, porém, talvez prefira achar que sim e descortine logo a sugestão de pequenez do ser que lê face à leitura em que o ego parece adormecer. Ou, já agora, a ideia da própria leitura enquanto embalo, tão cara a um escritor como Quignard. Paradoxo: a leitura, linguagem, ecoa naquele que lê apelo semelhante ao da vaga música que de longe, de fora, chega ao feto intra-uterino, infante (infans: o que não tem fala, i.e. linguagem) em formação. É dizer, aquele que lê, linguagem, responde sobretudo, notando-o ou não, ao fundo indistinto em que ela se forma. (Também ela, assim tudo, fantasma). Paradoxo eventual: aquele que escreve é em simultâneo o que embala e o que é embalado.
 
* [Don Diego de Acedo, el primo, era um anão. E o volume que segura, um volumoso in-folio. O quadro, óleo de finais de 1630, integra o acervo do Prado]