Não sendo exaustivo, o volume recolhe grande parte das composições dos principais títulos poéticos publicados por este republicano galego-português-exilado norte-americano no tempo das ditaduras ibéricas, prova provada de que na mesma cidade – Ferrol – podem nascer criaturas do melhor e do pior: Lua de Além-Mar (1959), Rio de Sonho e Tempo (1963), Futuro Imemorial (1985), Deus, Tempo, Morte e Outras Bagatelas (1987) e Caracol ao Pôr-do-Sol (1991). Há várias delas dedicadas à genial padroeira galega Rosalía, mas pelo menos nesta antologia nenhuma ao amigo Lorca, ele próprio cantor-a-meias da grande poeta do Padrón, única cujo génio se lhe compara no séc.XIX das letras hispânicas (portuguesas incluídas) – um dos seis magníficos poemas galegos compostos a par pelos dois amigos, e quem disso tivesse dúvidas basta pegar neste livro para as perder; a toada herdada das cantigas luso-galaicas medievais não engana. Esse prolongado silêncio de Guerra da Cal em relação ao mais brilhante dos seus muitos amigos de letras, e a essa «parceria» de 1935, um ano antes da morte do maior poeta de Espanha, é aliás algo que nunca foi muito bem compreendido, e provavelmente nunca será.
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