A derrota alemã, depois da entrada da América na guerra, já nem sequer se discutia, isto para aqueles, evidentemente, cujo olhar não estava embaciado, cujos ouvidos não estavam ensurdecidos pela fraseologia oca dos pertinazes chauvinistas. Assim, no dia em que o imperador da Alemanha fez a súbita declaração de que começaria a governar o país segundo uma orientação «democrática», logo adivinhámos o que havia por detrás dessa novidade. Havia já muito tempo que austríacos e alemães, colocados no mesmo plano, ansiavam ardentemente por que o inevitável se produzisse. Quando o imperador Guilherme, que outrora jurara lutar até ao último sopro do último homem e do último cavalo, tomou o caminho da fronteira, e quando Ludendorff, o homem cujo obstinado lema da «paz pela vitória» tantos milhões de vidas sacrificou, fugiu para a Suécia, disfarçado com umas lunetas azuladas, nesse dia, todos nós rejubilámos. Então acreditámos - e a humanidade acreditou connosco - que, com o fim daquele conflito mundial, soara a última hora do monstro abominável da guerra, não apenas daquela, mas de todas.
[Stefan Zweig, O Mundo de Ontem]
O armistício da primeira Grande Guerra foi há cem anos.
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