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Assistimos portanto na U.R.S.S., de há noventa anos para cá [sic], a uma espécie de match entre Dostoiewski e Marx. O primeiro round foi ganho por Dostoiewski na medida em que escreveu uma obra-prima; o segundo por Marx, pelo facto de as suas teorias terem desencadeado uma revolução; mas o terceiro round parece ter sido ganho por Dostoiewski; o mal expulso pela janela pelo marxismo reentrou em torrente na U.R.S.S. pela porta do estalinismo, ou seja, dos meios usados pela revolução para se afirmar e se manter. E que coisa é, este mal? Disse-o Kruschev no seu discurso, assinalá-lo-ei mais brevemente: o mal na U.R.S.S. são as numerosas Lizavete, ou sejam, os numerosos inocentes torturados, aprisionados, mortos em nome da revolução e que agora são reabilitados, mas aos quais não se poderá jamais restituir a vida que lhes foi arrancada. O mal, em conclusão, é a dor, a imensa quantidade de dor que submergiu a Rússia nos últimos cinquenta anos. (...)"
(Alberto Moravia, Um Mês na U.R.S.S.)
Notas:
a) Não foi pela porta do estalinismo que o mal descrito por Moravia entrou/reentrou. Sabemos hoje que já tinha entrado antes
b, mais interessante) Moravia era comunista.
a) Não foi pela porta do estalinismo que o mal descrito por Moravia entrou/reentrou. Sabemos hoje que já tinha entrado antes
b, mais interessante) Moravia era comunista.