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«De Portugal, ni buen viento, ni buen casamiento»


Fala-se pouco nisto entre nós (só agora se falou qualquer coisinha), como de costume, mas tem-se por certo que a grande paixão de Cervantes foi uma portuguesa, e por quase certo que dela nasceu a única filha do escritor castelhano, que a levaria da capital portuguesa para a espanhola. Nada se sabe dela senão talvez o nome: Ana Franco, seja a tradição documental ou oral. Há quem diga que era actriz (já haveria teatro em Lisboa?  possivelmente), há quem diga que era uma simples doidivanas, há quem diga muita coisa. Ter-se-ão conhecido durante uma das estadias alfacinhas do homem - com morada no bairro de Alfama -, ou quando ia embarcar para os Açores sublevados, ou quando ia embarcar em missão de espionagem para o norte de África. Até nisso era o Camões espanhol...
Se interessar o subsídio, aqui fica: na edição francesa do «Quijote» que abaixo se apresenta, com cerca de século e meio de idade, já se alude ao assunto.

Cervantes ― L’Ingénieux Chevalier Don Quichotte de La Manche

L’Ingénieux Chevalier Don Quichotte de La Manche / par Michel Cervantes / traduction nouvelle Par Ch. Furne // illustrée de 160 dessins par G. Roux, gravés par Yon et Perrichon

Paris: Furne, Jouvet et Cie, Éditeurs (Rue Saint-André-des-Arts, 45). [S/d]. In-4º gr. de XVI, 623, [1] págs. Enc.

Além das riquíssimas ilustrações, que nalguns casos parecem antecipar mais de meio século a obra gráfica de artistas como Max Ernst, mesmo se ficaram então num segundo plano em relação às que Doré compôs pela mesma época, interessa particularmente o estudo preliminar, biográfico, «Vie de Cervantes», cuja autoria não é indicada; começando por contar uma anedota logo do tempo de Felipe III/II, depois a disputa de várias povoações pela honraria do nascimento, depois a paixão fatal pela lisboeta que lhe daria a única filha, quando ia embarcar para os Açores ao serviço do Duque de Alba, etc. Edição impressa provavelmente pelas décadas de 1860/1870, em grande formato, com o texto disposto a duas colunas.

Exemplar revestido de uma boa encadernação da época, gravada a ouro na lombada mas já um tanto descolorada nas pastas; sem a capa primitiva, como costume ao tempo. 
 
48€

Cervantes ― Dom Quixote

The History of Don Quixote de la Mancha: with an account of his Exploits and Adventures

London: Milner and Company, Paternoster Row. [S/d]. In-8º peq. de 448 págs. + [2] ff. de estampa. Enc.

Não estando datada, a edição parece da segunda metade do século passado, provavelmente do último quartel (talvez 1870/1880).

Bonita encadernação editorial com relevos a negro e a dourado; apresenta pequenos vestígios de traça (que felizmente não passaram ao volume) e a pasta inferior, principalmente, está um pouco puída.
 
24€

«Traduttore, traditore»: os reis também podem trair.

Supondo que Deus não seja estrangeiro, a Bíblia não conta, mas um dos candidatos a livro da literatura estrangeira mais variadamente traduzido por cá talvez seja o «Hamlet»: assim de memória, foram tradutores o rei Dom Luís, Santos Quintela, Domingos Ramos, Sofia de Melo Breiner e António Feijó, por exemplo.
Para quem não saiba, o nosso  monarca foi um dos mais denodados tradutores de Shakespeare, e um dos primeiros - ou mesmo o primeiro - a traduzi-lo sistematicamente a partir do original. Camilo, no afã de dar graxa para obter o tão solicitado título de Visconde, chegou mesmo a publicar um opúsculo a que chamou "esboço de crítica" acerca da tradução do «Othello». E Junqueiro diria que mais valia ter ensinado o filho a escrever antes de se preocupar com traduções. Quase todas em exposição na Biblioteca Nacional.
   

Shakespeare ― The Complete Works

The Complete Works of William Shakespeare, Comprising his Plays and Poems (With a preface by Sir Donald Wolfit C.B.E. / Introduction and glossary by B. Hodek)

Spring Books London. [S/d]. In-8º gr. de XXI, [I], 1081, [3] págs. Enc.

“Within the pages of this book are contained some of the most beautiful words ever written in the english language; within the pages of this book are contained some of the greatest plays ever written in any language”, assim começava o rápido prefácio a que se seguia uma importante introdução com notas bibliográficas significativas. Edição monumental, curiosamente impressa na Checoslováquia de Bretislav Hodek.

Exemplar desvalorizado por vestígios antigos e recentes de humidade que afectam principalmente a capa (em tela fina), e por a esta faltar a sobrecapa, além de sinais de uso como pequenos apontamentos a tinta.
 
15€ 

Charles & Mary Lamb ― Contos de Shakespeare

Contos de Shakespeare (traduzidos do inglês por Januário Leite)

Portugália Editora, Lisboa. (1946). 2 vols. in-8º de 221, [3] e 241, [7] págs. Br.

Edição portuguesa da versão adaptada, vulgata,  dos irmãos Lamb, originalmente publicada em Inglaterra no início de XIX. O primeiro volume recolhe, após o prefácio do tradutor, «A tempestade», «Sonho duma noite de S. João», «Conto de inverno», «Muito barulho para nada», «Como lhes aprouver», «Os dois veroneses», «O mercador de Veneza», «Cimbeline», «O rei Lear» e «Macbeth»; e o segundo, «Bem está o que bem acaba», «A megera domesticada», «A comédia dos erros», «Pena de Talião», «Noite de Reis ou o que quiserem», «Tímon de Atenas», «Romeu e Julieta», «Hamlet, príncipe da Dinamarca», «Otelo» e «Péricles, príncipe de Tyro». Não estando indicada, a ilustração da capa parece de Ribeiro de Pavia.
 
10€

Shakespeare ― Júlio César

A Tragédia de Júlio César (traduzida em verso e prosa, conforme o original, e anotada por Luis Cardim, professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto)

Edição de A «Renascença Portuguesa» / Porto – 1925. In-8º de 283, [5] págs. Enc.

Dedicando-a a Ginestal Machado, dizia Cardim desta sua versão procurar “satisfazer, pelo seu texto e pelas suas notas, as duas maneiras de lèr Shakespeare: como diletante e como estudioso”; enquanto louvava no trabalho do escritor preferido “o maravilhoso verso sôlto, dádiva adaptada da antiguidade, as citações clássicas, certos elementos de Séneca, o estudo dos caracteres, as sublimidades do pensamento e, acima de tudo, o derramar de beleza, em profusão”. O prefácio termina lamentando, estranhamente, uma suposta falta contemporânea de traduções competentes do inglês – não sendo plausível que desconhecesse as que Domingos Ramos andava a publicar na Lello, é porque não gostaria muito delas, ou dele...

Exemplar revestido de boa encadernação em material sintético com dourados na lombada; preserva por inteiro a capa de brochura, mas aparada, como o foram todas as margens do papel.

15€

Shakespeare ― Hamlet

Hamlet (Tragedia em 5 Actos / Versão de F. dos Santos Quintella)

Escriptorio de Publicações (Rua de Santa Catarina, 231), Porto. [S/d]. In-8º de 223, [1] págs. Enc.

Edição popular, hoje porém já de esporádico aparecimento, publicada no início do século passado.

Exemplar revestido de sóbria encadernação em material sintético; conservando por todo a capa primitiva.
 
10€

Shakespeare ― Hamlet

Hamlet (Tragedia em 5 Actos / Versão de Santos Quintella // 2.ª Edição)

1913 – Escriptorio de Publicações de J. Ferreira dos Santos (Rua Formosa, 384 – ) Porto – (Portugal). In-8º de 223, [1] págs. Enc.

Esta segunda tiragem, sim, aparece com mais frequência; distinguindo-se pelo diverso retrato de Shakespeare gravado em folha destacada couché de anteportada, por uma outra folha couché preliminar com algumas vinhetas provavelmente copiada de alguma edição inglesa (não é indicada a proveniência) e por uma nova capa, ilustrada – que a encadernação editorial (percalina gravada a ouro), a cuja série este exemplar pertence, manteve na íntegra.

10€

Shakespeare ― Hamlet

Hamlet (Publicado pela primeira vez em 1603 e definitivamente em 1604 / A data da representação é incerta) // Tradução do Dr. Domingos Ramos

Porto: Livraria Chardron, de Lélo & Irmão, L.da, editores – Rua das Carmelitas, 144 – 1928. In-8º de XXXIII, [I], 306 págs. Enc.

“Debaixo de todos os pontos de vista, o Hamlet é o drama mais extraordinário e o mais excêntrico que tôda a arte dramática tem dado à luz. (...) Não poderia haver, como efectivamente não há, nada de maior no mundo. OEdipo rei e Hamlet são os dramas que não sofrem comparação com outros dramas”.

Exemplar da típica série encadernada pelo editor em percalina com dourados e a efígie do autor na pasta frontal. Assinatura de propriedade no rosto e dedicatória (posto que curiosa) de oferta na primeira página preliminar. 
 
10€ 

Shakespeare ― Hamlet

Hamlet (Publicado pela primeira vez em 1603 e definitivamente em 1604 / A data da representação é incerta) // Tradução do Dr. Domingos Ramos

1945 / Livraria Lello & Irmão, Editores (144, Rua das Carmelitas) – Pôrto / Aillaud e Lellos, Limitada (76, Rua do Carmo, 80 a 84) – Lisbôa. In-8º de XXXIII, [I], 306 págs. Br.

A mesma edição, reimpressa.

Exemplar maioritariamente por estrear, ainda com os cadernos por abrir em três quartos do volume.
 
5€