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Teixeira de Pascoaes ― O Penitente (Camilo Castelo Branco)

Livraria Latina Editora (Rua de Santa Catarina, 2 a 10) – Porto. (1942). In-8º de 323, [1] págs. Br.

Primeira edição de uma das – e a melhor – três mais conceituadas biografias do figurão, sucedendo a O Romance do Romancista (& O Torturado de Seide etc.), de Alberto Pimentel, e precedendo O Romance de Camilo, de Aquilino. Começava Pascoaes este interessantíssimo livro, no prólogo, escrevendo “Quem me iniciou na leitura de Camilo foi minha mãe. Tem sempre, à cabeceira da cama, aqueles volumezinhos encadernados em percalina vermelha [a conhecida colecção popular da Parceria António Maria Pereira], com o retrato, na capa, dum escrivão de lunetas e bigode. / Quando chega ao último volume, volta a ler o primeiro. E eu faria o mesmo se, em vez dum mau escritor, fôsse um bom leitor. Mas ler é mais difícil que escrever. Haverá, por cada cinco escritores, um leitor? Duvido.”; e “Camilo, para mim, é um autor sagrado. Amo-o com todos os seus defeitos e virtudes. Não distingo as suas páginas, roubadas à Bíblia, de outras, plagiadas ao lugar comum da literatura romântica. Não sou dos que blasfemam de Deus, por êle ter criado as môscas.”. Continuando no registo religioso, num tempo em que ainda se podia usar destas metáforas sem receio de atentados e da imbecilidade, “Camilo nasceu, em Lisboa, a 16 de Março de 1825, conforme os registos oficiais, e também por ironia do Destino. É como se Mahomet tivesse nascido na Groenlândia”. E a terminar, no epílogo: “Da vida e da obra de Camilo aproveitei apenas o que constitui o drama camiliano, profundamente humano ou religioso. O que há de interessante, num escritor, é a sua atitude metafísica. Preocupa-nos o Além, porque todos habitamos numa região exterior ao mundo, na região das sombras e dos sonhos. Falta-nos a gravidade das coisas sérias, a dum penedo, por exemplo. O homem é um sêr alado, embora trôpego ou apoiado nas muletas. Pertence à classe das aves, como notou Platão. Depenou por fóra? Está cheio de penas, por dentro. As suas asas fantásticas agitam-se num espaço imaginário. E nesse espaço é que êle vive; e só baixa ao de Euclides, depois de morto”.

Exemplar em muito bom estado, conservando o papel quase impoluto. Ligeiros defeitos na capa: pequenos rasgões, uma etiqueta de biblioteca particular recoberta por fita-cola. Aparado à cabeça e de lado. Integra dois recortes antigos de jornal, nos quais se lê um artigo inédito de Rocha Martins (também ele camiliano, autor de A Paixão de Camilo, mais um clássico), «O ambiente em que viveu Camilo visto através do Inventário Judicial dos seus bens». Resumo: “As letras em Portugal são ainda o reflexo do que êsse Inventário espelha. Camilo quis viver da pena e em penas viveu e se finou”.
 
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