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O Ultimatum e o 31 de Janeiro

O Ultimátum [sic] e o 31 de Janeiro: catálogo da exposição

Biblioteca Pública Municipal do Porto. 1991. In-8º gr. de 82, [2] págs. Br.

Catálogo da grande exposição do centenário, enriquecido pela transcrição dos dois longos textos que ocupam a maior parte do volume – «A Revolta do Porto», publicado por Luís de Magalhães na Revista de Portugal (dirigida pelo amigo Eça de Queirós), e o célebre «Manifesto dos Emigrados da Revolução Republicana Portuguesa de 31 de Janeiro de 1891» (assinado, entre outros, por Bruno, Basílio Teles, Alves da Veiga e o alferes – depois coronel – Malheiro). Sob direcção gráfica de Henrique Vanez, da qual se destaca a bela capa, reproduz ainda várias das peças expostas, como a aguarela de Roque Gameiro representando a bandeira da revolta (que faz hoje, exactamente, 123 anos), a conhecida planta d’O Commercio do Porto com o Mapa cor-de-rosa, o frontispício do Manifesto, a fotografia dos condenados a bordo do navio de guerra India, um dos manuscritos de Junqueiro, a carta de Antero agradecendo a eleição como presidente da Liga Patriótica do Norte, etc.

Tiragem de 1500 exemplares; este, por estrear, em óptimo estado.  
 
7€ 
 
 

Uma história portuguesa, com (única) certeza


Ainda sobre Descobrimentos. Tem  dado  notícia na imprensa  e  na  web (que vê polémica e risota seguirem crescentes) a venda a uma galeria nova-iorquina especializada em iluminuras, por um livreiro antiquário português, de um manuscrito luso no qual figura, dentro de uma letra capital «D», o desenho do que  se  logo aventou um canguru. Julgar-se a peça composta entre o final do séc.XVI e o início do XVII acentua a hipótese - que vários historiadores têm sugerido - de a Austrália não ter sido descoberta, por navegador holandês, em 1606 e sim antes, à imagem do caso americano (Colombo, o oficial, chegou cinco séculos depois dos vikings, cuja aportação à Terra Nova é sabida). Certo que, até prova concludente, não valerá embandeirar o useiro entusiasmo auto-glorificador lusíada em arco: ainda que o manuscrito anterior a 1606 e o animal representado, efectivamente, um canguru, continua a faltar o corpo de evidência: a garantia de o desenho ter sido feito à vista desarmada, in situ ou memorando, e não em cópia. Se, como se diz, a autora do manuscrito fosse uma freira de um convento das Caldas, não parece muito pertinente, passe o mau feitio, imaginá-la em tão meridional e peregrina missão aos aborígenes, navegando no meio da súcia marinheira. É  bem possível que (também aqui como na América, before Columbus) hajam pela Oceânia passado portugueses antes dos demarcados holandeses. Mas a fácil rapidez com que se pretende fazer uma pequena  curiosidade assumir  foros de revolucionária  prova histórica, mais a mais, quase implausível, torna-se espantosa coisa. Sem emenda.
Pode-se ler acerca disto variações (ficamo-nos pelas jornalísticas, respeitando os bons costumes e a pudícia dos leitores) aqui e aqui , por exemplo. 

Jerónimo Lobo ― Itinerário

Itinerário e Outros Escritos Inéditos / Edição crítica pelo P.e M. Gonçalves da Costa / Com a colaboração de Prof. Charles F. Beckingham (Univ. de Londres) e Dr. Donald M. Lockart (Univ. de Norwich, E. U. A.)
 
Biblioteca Histórica – Série Ultramarina / Livraria Civilização Editora. (1971). In-8º gr. de XXVIII, 832, [2] págs. Br.
 
A introdução de Gonçalves da Costa reparte-se pelos capítulos «O Padre Jerónimo Lobo e o seu ambiente histórico», «Personalidade do P.e Jerónimo Lobo», «O Manuscrito», «Traduções e edições do Itinerário» e «O texto para publicação», que se seguem aos preliminares «Bibliografia», «Cronologia do P.e Jerónimo Lobo» e «Sumário do Itinerário». Edição monumental, a primeira que reúne este conjunto de textos, cuja importância para a história dos portugueses no Oriente é indiscutida; ilustrada por dezassete gravuras a cor e p/b sobre folhas destacadas de papel couché.  
 
Exemplar ainda em boa condição geral, mas prejudicado por certo desgaste sobre a capa, à superfície do encaixe, que justificou já um pequeno restauro.

27€

Camões

Camões (Discursos pronunciados na Sessão Comemorativa do seu 340.º ano, promovida pela «Junta Patriótica do Norte» no Teatro Águia de Ouro no dia 10 de Junho de 1920./I - Camões e a fisionomia espiritual da Pátria - Leonardo Coimbra. II - Lusiadas: epopeia nacional - Hernani Cidade. III - O ambiente histórico dos Lusiadas - Damião Peres. / Oferecido à «Junta Patriótica do Norte» para os seus Orfãos de Guerra e por ela editado.)

Porto MCMXX. In-8º de 41, [1] págs. Br.

Edição graficamente castiça, com uma moldura decorativa sobre os três textos dos todos professores na primitiva Faculdade de Letras do Porto - nenhum deles falando propriamente do poeta: o primeiro, de Leonardo, na habitual prosa metafórica e digressiva; o segundo e mais longo, de Hernâni Cidade, dedicando-lhe apesar de tudo algumas considerações, dizendo dele o espírito mesmo da raça portuguesa, e terminando por algumas hipóteses especulativas sobre D.Sebastião e Alcácer-Kibir; e o último, de Damião Peres, desfiando em sequência alguns dos sucessivos passos dos descobrimentos portugueses.

Exemplar ainda em bom estado global, prejudicado apenas por ligeiros defeitos exteriores e por pequenos picos - devidos, provavelmente, a traça - marginais no pé das folhas, sem afectação da mancha tipográfica.
 
15€

Águias Passadas, ou a escrita automática em feição digital

Vinha no Público de hoje/ontem, em legenda a uma fotografia do último jogo do Benfica, uma maravilhosa frase, que aparenta aquela muito típica confusão informática e foi capaz de, sozinha, sobressaltar a quotidiana pacatez do jornal. Citando: Em delit am, conullum zzril illa aut alis nit adigna corting eriustrud Ure vel ulla. É algo que não apetece, Ambrósio, a quem escreve agora estas linhas, mas dá vontade de pensar em embrenho decifrador, porque a sentença, com vírgula e tudo (note-se o cuidado sintáctico), soa quase a oração votiva pagã e provoca de facto um espanto hipnótico semelhante ao efeito da escrita automática. Terá sido o mote do clube, única coisa nele  tão pouco portuguesa (refere-se o afã colectivo, não a língua morta), Et Pluribus Unum, a inspirar aquela primeira parte da frase, sorte de latim entrecortado por um estranho "zzril" [espirro?], até "adigna" ? E a saudade dos golos de Mats Magnusson, dos livres de Stefan Schwarz e do pulmão de Jonas Thern, já para não invocar o deus dinamarquês Manique (não o pouco divino Pina), a casá-la, de modo flagrantemente contra-natura, com a final, nórdica? (Outro sim aqui a alusão romana, os visigodos tomando conta do exército imperial no estertor do Baixo-Império, etc.)
 
Se fosse - disso o livrem todos os deuses, romanos e nórdicos e os mais que haja - benfiquista o autor deste pedaço de prosa, não desdenharia tomar por lema a frase, mesmo abreviada, e deixar lá o et pluribus unum. Em qualquer dos casos, fica à consideração, para memória futura. Não mereça  como a passada glória de ambas as icónicas águias, queira dizer o que queira, sempiterna fama.

A «austeridade» segundo Manuel Pinheiro Chagas

Os caprichos da sorte, que dão a certos homens todos os prazeres e todas as prosperidades e condenam outros à miséria, revoltam forçosamente os corações generosos. Este contraste [...] do luxo e da pobreza, da abundância e da fome, este agrupamento confuso dentro dos muros das capitais, dos que se sentam à mesa dos banquetes opíparos e dos esfaimados que esperam à porta dos palácios o pão da caridade, estas aproximações do palácio sumptuoso e da casinha de paredes nuas sem ar e sem luz, este espectáculo do prazer e da angústia, dos requintes da civilização e dos crimes selvagens do desespero, desenrolando-se à noite debaixo do mesmo céu estrelado, à mesma luz da lua que beija com os seus raios indiferentes a vidraça resplandecente do salão de baile e os caixilhos da janela sem vidros por trás da qual se ouvem os gemidos, os soluços, as maldições dos desvalidos, esta constante antítese, que se apresenta aos olhos e ao espírito do pensador, principalmente nos grandes focos de população, impressiona por força os homens de coração e de inteligência
 
[Voilá; e já nem se pedia  aqui  inteligência. Na abertura da tão crítica e hoje rara «Historia da Revolução da Communa de Paris, por M. Pinheiro Chagas», agora acabada de manusear. Muito haveria a dizer sobre o livro e alguns episódios, até anedóticos, subsequentes à publicação. Ficam duas só notas: não estando datada, há-de ela ter sido no último quartel do séc.XIX, entre 1871 (Comuna) e 1895, ano da morte do escritor; que não era, propriamente, como o livro justifica, conhecido por posições esquerdistas...]

Lima de Freitas

Árvore – Cooperativa de Actividades Artísticas, C.R.L. Porto, Fevereiro de 1989. In-4º gr. de [24] págs. Br.

Catálogo da exposição individual do pintor setubalense no Porto, impresso em bom papel encorpado, com um texto de apresentação pelos editores e um outro (não completo) de Gilbert Durand sobre «A Obra de Lima de Freitas: post-modernismo e modernidade da tradição». Inclui reproduções – duas em folha inteira e 3/4 – de quatro dos  mais conhecidos trabalhos em acrílico e principalmente, no final, uma selecção da obra gráfica (serigrafias, litografias, águas-fortes, linóleos, etc.); sendo a capa ilustrada por uma das muitas variantes do mesmo tema, esse extraordinário Pedro I e o esqueleto de Inês: o Rei-Saudade e aquela que, coroada ou não (ainda hoje se discute), depois de morta foi Rainha.

Exemplar por estrear e bem conservado, afora alguns vestígios de acidez.

10€

José Saramago ― Deste Mundo e do Outro

Editora Arcádia, S.A.R.L. Lisboa. (1971). In-8º de 213, [11] págs. Br.

Primeira edição deste volume de contos e crónicas, um dos mais antigos – salvo erro, o terceiro – publicados pelo autor; saída na série «Biblioteca Arcádia de Bolso». Alguns capítulos: «Um Natal há cem anos», «Carta para Josefa, minha avó», «O meu avô, também», «Nasce na serra de Albarracim, em Espanha», «Viagens na minha terra», «Almeida Garrett e Frei Joaquim de Santa Rosa», «Nós, portugueses».

Exemplar com pequenas marcas na capa, mas em condição ainda praticamente intocada no miolo. 
 
40€

Não ladrão que não rouba ladrão: 418 anos de perdão (e não é Salomão)

a iluminada «arguida»
Tem sido notícia nos últimos dias, e Luís Miguel Queirós desenvolvia-a ontem nas páginas do Público. Reclama-se em Faro pela biblioteca de Martins Mascarenhas  (bispo do Algarve, conhecido teólogo da época, sucessor no cargo do hoje mais  afamado Jerónimo Osório; autor dos Commentariae in Proverbiae Salomonis, entre vários tratados; jesuíta, representou o clero português no Concílio de Trento* e acabaria Inquisidor-Geral do Reino), saqueada pelo conde de Essex durante assalto à cidade e alguns anos depois doada à Bodleian Library, da Universidade de Oxford. Primeiro tema: escusa de esfregar as mãos, por descontentamento contente, quem entre nós não tenha "à velha Albion dos mais acrisolados amores" (Camilo), porque o ataque foi em 1596, vigentes reinado cá de Filipe II e conflito entre coroas, britânica e hispânica; e o mote, embora aqui especialmente impreciso (dada a ligação pessoal do irreverente aventureiro à própria Elizabeth, então rainha), terá sido mais o corso do que, enfim, militar. Segundo: se a ideia é aproveitar a recente vaga de devoluções, francesas e inglesas, em grande parte por reclamações (e ameaças de processos em tribunal) do Egipto a conceituadas leiloeiras, talvez convenha notar este pequeníssimo pormenor: uma coisa são «saques» de há 1 ou 2 anos; outra, os que contam séculos. Para efeitos jurídicos, por exemplo, depressa se perceberá a diferença. De resto, se isto, à mera diplomacia, fizesse escola, era ver esvaziar num ápice metade de bibliotecas e museus (estes, mais) em todo o lado. No caso das bibliotecas, tomariam o sentido oposto ao do étimo: lugar onde arrumar os livros (disse alguém: a própria vida. A de bibliotecários e leitores, pelo menos, passaria ao caos).  

[* Pode-se ler, no repositório digital do Instituto Camões, a reprodução da carta enviada ao rei, D. Sebastião, logo após o conselho]  

História do Futuro (I)

"(...) os Estados Independentes (digo os que de nada carecem, como o Brasil) nunca são os que se unem aos necessitados e dependentes : Portugal he hoje em dia um Estado de quarta ordem, e necessitado, por consequencia, dependente; o Brasil he de primeira, e independente"
 
(Não parecerão  palavras particularmente patrióticas, estas; mas, menos ainda, tolas; e, ainda menos, desactualizadas. Fazem parte de uma entre várias missivas então enviadas pelo Libertador, já  proclamado imperador do Brasil, ao pai, a quem com boas razões começava a preocupar a independência  de destino da grande possessão ultramarina, suspeitando-a irreversível; e foram depois publicadas no Diário das Cortes. O quadro,  óleo de Manuel de Araújo, representa o nosso Rei-Soldado segurando um exemplar encadernado da primeira constituição brasileira, de 1824.) 
Primer Mapa Universal Inglés. Año 1527
Robert Thorne (Impreso en Londres?)

A peça, composta aos inícios da década de 1960 em bom papel avergoado, poderá (mas salve-se desde já probabilíssimo erro) fazer parte de uma presumível série independente dos mapas (ou de só alguns deles) reunidos na edição de «Mapas Antiguos del Mundo», de Carlos Sanz.
Na frente, apresenta-se o fac-simile da carta original, com o mapa e as duas notas de base - a da esquerda, em latim, referindo as demarcações entre os territórios do Império espanhol e da Coroa portuguesa; a da direita, em inglês renascentista, explicando ter sido ela enviada por Robert Thorne ao embaixador de Henrique VIII na corte de Carlos V. O verso expõe as notas de Sanz, que refere, por exemplo: - a precisão do desenho dos vários continentes, muito superior à habitual por aqueles tempos, assinalando em particular o da América do Sul (Terra Firma, chamando-se à do Norte Terra Florida e à Central Hispania Nova), já bem próximo do correcto; o facto de aparecer, pela primeira vez sabida, impresso num mapa o nome China; e os termos gerais em que Thorne - um negociante de Bristol com longo estágio em Sevilha - pretendia convencer o seu rei das vantagens da expansão, sob o argumento de que três partes do mundo eram descobertas mas faltava a quarta (o Norte: América do Norte, subentende-se), inteiramente à mercê.

[Dimensões: 349x501]

Exemplar um pouco desvalorizado por dois pequenos rasgões, ainda que marginais, sobre o pé da carta, além de pequenos vestígios de acidez em dispersão e um carimbo, que aparece já ténue, no canto superior direito.

10€


João Penha ― Echos do Passado

Echos do Passado (versos) / Colombina (conto)
 
Porto: Companhia Portuguesa Editora, 1914. In-8º de 176 págs. Br.
 
Primeira edição, com prefácio e notas finais do autor – estas, o mais interessante do livro, em invectiva contra a primeira legislação de normalização ortográfica promovida por Cândido de Figueiredo, de que vários argumentos até agora, um século depois e em pleno período «experimental» do novo «acordo», se pode recuperar (são  à frente reproduzidos excertos  mais pitorescos  na ortografia original, com certeza; também se mantém alguma deficiente pontuação, sugerindo que a Penha terá preocupado muito a ortografia e bem menos a sintaxe). À recolha de versos inéditos acresce o curioso conto «Colombina», escrito em 1905 mas só então publicado.
 
Exemplar em bom estado, salvo certo desgaste da capa.
 
15€

António Patrício — Dinis e Isabel

Dinis e Isabel: conto de primavera (Desenhos de Sofia de Sousa)
 
Livrarias Aillaud e Bertrand. 1919. In-8º de 188, [8] págs. Br.
 
Primeira edição,  inteiramente rubricada pelo autor; de bom apuro gráfico, com impressão a duas cores e desenhos em frontão da  pintora portuense (a irmã de Aurélia). Na nota de apresentação  do próprio António Patrício  lia-se que “Pedro o Cru é a tragédia da Saùdade; Dinis e Isabel, a do homem que amou uma Santa, a de uma Santa. Chamei-lhe em subtítulo, à Shakespereana maneira, Conto de Primavera, porque me pareceu resumir assim a intenção tôda lírica do conto: – dar, dramatizada, uma visão de Livro de Horas, o sonho de alguêm que uma manhã de primavera, entrasse numa igreja e adormecesse, sob a influição fulgurante dos vitrais”.
 
Exemplar ainda em razoável condição geral, mas algo prejudicado por vários defeitos – na capa, o mais (vincos e ligeiras falhas de papel sobre o encaixe), e no miolo (pequenas manchas de acidez e leves rasgões, com falhas marginais de papel, ao alto de três folhas últimas).
 
20€